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quinta-feira, julho 28, 2005

Tipo Paulo, coelho bravo, no género...

Era uma vez um velho sábio, tido como mestre da paciência, sendo capaz de derrotar qualquer adversário.
Uma tarde, um homem conhecido pela sua total falta de escrúpulos apareceu com a intenção de desafiar o mestre da paciência. O velho aceitou o desafio e o homem começou a insultá-lo. Chegou a jogar algumas pedras na sua direcção e gritou todos os tipos de insultos.
Durante horas fez tudo para provocar o velho mas este ficou impassível. No final da tarde, sentindo-se exausto e humilhado, o homem deu-se por vencido e retirou-se.
Impressionados os alunos perguntaram ao mestre como ele pudera suportar tanta indignidade. O Mestre retorquiu:
- Se alguém chega junto de ti com um presente e tu não o aceitares, a quem pertence o presente?
- A quem tentou entregá-lo! - respondeu um dos discípulos.
- O mesmo vale para a inveja, a raiva e os insultos. Quando não são aceites continuam pertencendo a quem os carrega consigo. A tua paz interior depende exclusivamente de ti. As pessoas não te podem tirar a calma. Só se tu permitires...

O Vitor Pêra está preocupado...

Vitor Pêra chegou a casa, vindo da companhia de seguros, e depois da declaração de amor diária a Helena Pêra assumiu um tom grave e falou:

- Acho que não deves continuar com o blogue! Deves canalizar as tuas energias para outras formas criativas, mais protegidas, ... não sei se me entendes...

O discurso é recorrente...

... Helena Pêra sabe-o de trás para a frente...

- Não devias postar merdas que tens escritas, devias limitar-te ao imediato!

Ele passa a vida a correlacionar o que se passa na companhia de seguros com os seus pobres clientes, autores não publicados, que sofrem alheios roubos inocentes de ideias próprias.

- Está bem meu herói-marinheiro-na-arte-de-manobrar! A saga dos ultra super está de volta e esqueçamos o resto...

- É melhor Chóninha, fico mais descansado...

"Costa da Rapariga", Verão 2001, odisseia na areia.

Os portugueses cultivam o hábito de faça sol ou nem por isso rumar à beira-mar, em fins-de-semana familiares.

Vai o pai, a mãe, os filhos e a sogra, no mínimo... Alguns levam também o cão, o colchão insuflável, o chapéu de sol de uma qualquer marca de ice tea, a geleira azul com bordas brancas, as cadeiras de praia para evitar a areia agarrada ao bronzeador oleoso, sem factor de protecção ou índice de refracção dos raios ultra...

Invariavelmente nunca levam sacos de plástico para guardar o lixo que fazem e deveriam deixar nos respectivos caixotes ao ir embora da praia...

E que fazem estas pessoas? Chegam, abancam ou antes atoalham quanto mais em cima da família do lado melhor e espalham-se pelo areal, assim como toda a panóplia de coisas e coisas: produto genuíno adquirido numa campanha praia e campo, de um qualquer hipermercado.

Estas famílias invariavelmente sofrem de otites desde bebés por isso gritam, gritam muitíssimo entre si.

Por outro lado não sofrem de artrite reumatóide e exercitam-se com uns belos pares de estalos nos filhos quando estes insistem em abrir a geleira para se refrigerarem, comendo como alarves e “ir ao banho”, de seguida.

Assistir in loco a estas cenas familiares tão genuinamente lusitanas é de não saber se se há-de rir ou chorar ou meter a toalhinha debaixo do braço e ir para casa ver o desporto na RTP2 e prometer que vamos começar a ir a museus ou então a embebedarmo-nos de tal forma que a puta da ressaca não nos deixe insistir em ir apanhar com areia por todos os lados, como se fossemos uma ilha...

quarta-feira, julho 27, 2005

A compulsão

(...)

Quando Bárbara chegou aos trinta e cinco quilos a equipa multidisciplinar, que a acompanhava desde o inicio da doença, falou de novo com os pais e explicou-lhes que a solução era o internamento compulsivo, fortalecido pelos dois psiquiatras, ou já não puderiam responsabilizar-se mais pela recuperação da filha.

(...)

Bárbara era a filha de seus pais e aquela que sempre teve tudo, até a natureza do seu lado. No entanto havia qualquer coisa errada que a fazia recusar-se a ser, quase de um dia para o outro, de mansinho, a mesma, ela.

(...)

O Dr. Pessegueiro desde o início falou em doença crónica. Tentou explicar-lhes que Bárbara tinha um problema emocional em lidar com os sentimentos, ou assim, linguagem não entendível a leigos, em que os sintomas silenciosos acabavam traduzíveis em adições várias, todas elas difíceis de resolver.

(...)

Subiu no elevador e disfarçou o olhar no espaço disponível, sem gente. Como é que eles tinham tido coragem de lhe fazer isto!
Ainda havia em Bárbara um resto de resistência, mas ela sabia que tinham razão. Bárbara também estava cansada de psicoterapias, consultas, pesagens, lágrimas, pequenas vitórias destruídas no dia seguinte...

Eu sinto a tua falta...

...às vezes nem sempre sinto a tua falta e pior sinto falta de mim enquanto estive contigo e até sinto falta de ti quando não estavas e eu na casa imensa podia ser apenas quem era sem as tuas amarras e censuras e sinto falta de fazer-te deixar ir com os meus desafios até ao fim...

... ainda bem que me fazes falta porque não conseguia viver contigo...

terça-feira, julho 26, 2005

Uma supermãePêraUltraHerói também vacila...

Apesar da Lua Cheia Helena pêra está com o bio-ritmo desgraçado, nem arcanjos nem quejandos nem afins... Depois, entrou na fase de "chocagem" de menstruação ou seja SPM, ninguém a atura nem ela pode sentir ninguém por perto; tipo Luiz Pacheco: conselhos para as gerações vindouras? Para quem começa agora: PUTA QUE PARIU! ... Mais ou menos isto... Ai!... Ai!...

Do dia nem falo (não é isso!, sei que a lua está cheia, mas não se estiquem...), para quê falar das tristezas enterradas quando na pior das hipóteses amanhã não puderá ser pior que hoje...

Venha ele! O dia a seguir à noite outra Helena Pêra novinha em folha com mais um dia vencido de SPM!!!

Beijos meus para todos vós humanos e supers... Ai!... Como eu estou...

Resultado do fantástico passatempo

A gerência deste blogue informa os parcos comentadores que foi decidido não atribuir quaisquer dos prémios uma vez que os mesmos teriam de obrigatóriamente ser remetidos ao Jorge, fiel companheiro de guerras perdidas, que não os quis partilhar com Solrac.

Assim, os maravilhosos prémios revertem para a próxima semana, excepto a lata meia vazia de pepsi twist que o Martim Pêra bebeu entretanto, "ó mãe se não estraga-se...".
Para além do bilhete pré-comprado e da coleira de gato, temos, então, a saber:

- um resto de açorda do jantar de ontem, que ainda transpira a alho e coentros;
- borras de café, do lidl, que são óptimas para fertilizar vasos;
- 33 bonecos de guerra, última tecnologia chinesa, com falta de ou braços ou pernas, mas muito funcionais ainda (Martim Pêra redime-se assim da pepsi bebida);
- uma bateria de carro esbabada mas muito gira para levar para picnics saloios à beira da estrada (para sentar as regueifas).

Como podem ver não estou aqui para enganar ninguém.

Estão à espera de quê?

Precisa-se

Precisa-se encarregado de massas encefálicas para assistir famoso professor neurocirurgião com parkinson.

Resposta ao nº69

segunda-feira, julho 25, 2005

Ó menino, ó, ó... olh' á confiança!

Pergunta Helena Pêra, já no desespero da boa vontade crónica de ultra-mãe-super-herói: - Onde é que está a graça? Replica a cantar ultra-filho Pêra super-herói Martim: - Onde é que está a luz?


(Sorrisos.amarelos.de.quem.ama.a.sua.cria.incondicionalmente.pt)

Muitos pais-nossos e avés-marias depois...

A Adelaide, depois de muita repressão católica, descobriu a masturbação aos trinta e dois anos. Estava a tomar duche e demorou o chuveiro mais tempo numa zona de si que não conhecia. A seguir à dormência começou a sentir um prazer, com um quase desfalecer, sem o ser, que a fez interrogar e explorar mais o seu corpo.

Lembrou as aulas de biologia e saúde e recordou a pergunta da Sandra, que traduziu o seu pensamento, o que é o clitóris setora?, enquanto as outras riam cansadas de conhecer o prazer solitário.

Adelaide começou assim a descobrir o esquecido.

Muitas missas depois e um divórcio, ousou deitar-se toda nua na sua cama enorme vazia, agarrar num espelho e ver-se tocando-se...

Descobriu-se sem censura...

Finalmente sabia o que era aquilo do orgasmo, de que tanto toooooodoooooos falavam, e lamentava as mentiras que se disse todos esses anos em que esteve com Manuel.

Adelaide sentia-se uma mulher nova!

Tenho ainda areia da Comporta nos dedos dos pés

O mar da Comporta estava uma delícia. Salgado q.b., formando piscinas pelas alas, batendo o adversário pela frente, rebentando na rectaguarda, desculpem, é o Gabriel Alves que tenho dentro de mim a possuir-me...

As massagens da Alexandra Sedas, hum...

As tias os tios os primos o homem que tenta vender bolas de berlim e palmieres lixado da vida: "P'rá semana vou mas é para Sesimbra, aqui é só jet set, é só ricos!", o pobre bateu a praia sempre com a mesma lengalenga, entremeada de pregões ao produto disponível... Foi-se cabisbaixo, sem vender rigorosamente nada.

No regresso fizemos Tróia-Setúbal de ferry boat. Fomos comer umas sardinhas a Setúbal.
Almoçamos numa esplanada sendo abordados por 1256 vendedores da revista Cais, 890 africanos com bugigangas e estatuetas, 2457 brasileiros. O que eu gostei particularmente foi um brasileiro a vender cocadas e um doce de leite condensado e amendoim que, garantia do próprio, deixa qualquer pessoa com alegria e de bem com a vida!

O regresso tranquilo. Digere-se a refeição, uns dormem nos ombros dos outros, a estrada desfila, ouve-se Calcanhoto, Avião sem asa Fogueira sem brasa Sou eu assim sem você.

Como diz Martim Pêra: "isto é que é vida!".

sexta-feira, julho 22, 2005

Porque amanhã é sábado...

... e hoje é sexta-feira o peso da rotina torna-se mais suportável. Claro que sempre ajuda saber que amanhã pela manhã iremos para a Praia da Comporta, em boa companhia. Não há nada que a água do mar não lave, como diria mãezita. E ganha-se mais um pouco de ar para esta irrespirável espera pelas férias.

quinta-feira, julho 21, 2005

Diz filha...

Estou cansada. Hoje sou mesmo eu, por aqui, a arrastar-me. Cansada, mesmo. Mas, cheia de força para sexta-feira, amanhã.

Desculpem, ando a treinar vírgulas.

É que sofro do Síndrome de Orlando. Desculpa Virginia, sou uma velha loba, faminta, , , , , , , ,

Já vos disse que estou cansada virgula mesmo cansada virgula e que tenho muito pouco jeito (virgula ou não) para roubar aos outros o que não é meu? ... Já não já?
... Quantos passos? Dois à crocodilo...
Muito cansada, mesmo.
... Dá licença mãezita?

quarta-feira, julho 20, 2005

Um Filme manhoso na madrugada

... a menina diz não te deixes levar à certa! O menino ouve e replica que nunca foi um bom corretor. O manganésio. Os elementos todos. A adega. Chega Paul. Foi convidado para o jantar. Estão à mesa. Paul trás os seus assistentes. Brinda-se. (Aos amores?) Toca-se para animar o ambiente. Ouve-se o inicio da música. Feche os olhos. Que nota é esta? Um mi. O senhor desfila sons invulgares com a voz acompanhado da sua guitarra, que toca. Não é pernil é tofu com forma de pernil. É um espirito interessado e uma mente aberta. Nisso concordamos que discordamos. Profecia pela cor e pelo som: o vinho. Sentado, à escuta... esperando. Os circuitos parecem saturados.

Se calhar devia virar-me de novo para as benzodiazepinas. Estou a ficar viciada em adormecer a ouvir a televisão.

Palhaço Alemão


Tinha tendência de inventariar as pessoas logo ao primeiro contacto. Acreditava sobretudo no sexto sentido feminino ou intuição ou qualquer coisa parecida. Intuitivamente nunca falhava: era tão simples quanto isto ou se é boa ou má pessoa. A Maria, por exemplo, fazia sempre o "teste do cão": levava os amigos ou o cão a conhecerem-se mutuamente e este ao cheirá-los se os aceitava era porque seriam boas pessoas, de confiança. Mas o cão começou a envelhecer e cada vez mais falhava nos diagnósticos... O dono teve de começar a fazer prognósticos e apesar de dizer-se conhecedor da natureza humana eram muitas as vezes que falhava redondamente.

Quem visse aquele homem, com a sua capa, assustava-se, amedrontava-se, como se não fosse possível existir homem mais frio e cruel: tinha cara de palhaço alemão, nazifilhodaputa! Até não fazia sentido; conseguir apenas imaginar alguém tão parecido com ninguém, mas ao mesmo tempo muito forte, com a sua forma de viver extremamente agressiva... Mas, dizem, os olhos são o espelho da alma: tão sedento, tão contraditório: cheio de amor e ódio; imenso de ressentimentos e pronto a perdoar e esquecer... Porra! Que homem complicado!

Dizia, cheio de altivez, odiar as mulheres, que eram umas sacanas, umas manipuladoras, umas verdadeiras cabras! E não conseguia respirar sem as sentir por perto!

Cláudia tirou-lhe o registo em dois tempos, ao vê-lo duas ou três vezes, e depois ao ouvi-lo... O desdém que se forçava a mostrar a cada mulher que via era tão grande como o desejo de a possuir! Muitas vezes refugiava-se e fortalecia-se com a presença dos amigos, machos, daqueles que não usam peúgas no Verão com o sapatinho de berloque a brilhar de graxa e mal vem o calor vão a correr para a praia na esperança de comer alguma boazona desprevenida e menos atenta!

Mas o sexto sentido dizia-lhe que ele até seria boa pessoa, apesar do ar anazizado que transpirava exteriormente, usava aquela cobertura havia décadas, toda a sua vida, e acabara por se fundir no corpo... Seria muito difícil sacá-la e mostrar-se como era.

O António era emocionalmente dependente daquela rija capa e foi assim que apareceu Cláudia na sua vida.

terça-feira, julho 19, 2005

Os super-heróis também tentam a sua sorte!

Os ultra super-heróis andam tão em baixo desde quase sempre mas principalmente desde a subida do IVA que de vez em quando que se lixe gastam dois euros numa aposta de euromilhões.

A semana que passou na sexta-feira Vitor pai super-herói Pêra pediu uma aposta à máquina para não pensar nos números registou e foi para casa.

Quando soube da chave agarrou-se ao peito na dúvida Ai Chóninha, Ai Chóninha, que é como trata Helena Pêra e caminhou em busca do bilhete do sorteio.

Veio a justificar-se pois era este e saiu este e este... Entre o haver e o ter Vitor Pêra alcançou o prémio mínimo.

Helena Pêra olhou-o e disse ias tendo uma paragem cardíaca imagina se ganhasses essa treta.

Ou Vitor Pêra reduz o sal e o alcool, a companhia de seguros mata-o!, ou nunca puderá ganhar os "aéreomilhones", pérdone dei um arrotóne!

Estou tão contente com o Google Earth!

Ver a minha casa, a escola e o Largo, o café do Cantinho, A Avenida Capitães de Abril, o supermercado e a Paleta, os carros estacionados, a casa da Pititi, do Gabriel, da Fanny, do Póti, do Chá-Chá-Chá... que emoção!

E ainda dizem que God não existe!

Perturbações

"Senhores Passageiros:

Por motivos de ordem técnica encontra-se, de momento, interrompida a circulação na linha azul. Aguardamos que os serviços técnicos estabeleçam condições para seguir circulação. Agradecemos a compreensão."

- Mãe o que é a compreensão?
- Filho é aceitar as coisas como elas são!

segunda-feira, julho 18, 2005

Pedro

Os preparativos começavam quase dois meses antes. Pedro iniciava os primeiros contactos, pesquisava datas, acertava o aluguer do espaço. Anualmente, no início de Junho juntava-se o mesmo núcleo de amigos, de ano para ano mais alargado, tipo "trás um amigo também"... Deixou de precisar da cunha da São Marreca, e combinava directamente com o senhor João, da Junta de Freguesia, que velava pelo pinhal e agendava os dias para ocupação por grupos grandes.

Fazia-se uma “sardinhada”, com as sardinhas mais frescas compradas no mercado, febras, entremeada e muita cerveja, mas mesmo muita cerveja... Encarregavam-se as mulheres da salada com muita alface, tomate, pepino, cebola e o belo pimento assado, tudo o que se tinha direito.

A Ritinha fazia sempre uns doces maravilhosos para os mais estóicos, que no fim de tanta comida e bebida ainda fossem a jogo.

O Manuel mandava o pão, fresquíssimo, feito de propósito na sua padaria, e fazia o bolo, invariavelmente com imagens de gajas nuas e boas com ar de quentes...

Um grupo ia logo pela manhã, preparar tudo. As mesas, os pratos, copos e talheres em plástico e guardanapos a jeito. Os bidões, cheios de grandes blocos de gelo com as cervejas e sumos para as crianças. Tratava-se das grelhas, do carvão, das brasas. Tudo disposto com afecto e feito com companheirismo.

Pedro era muito querido de todos. O que falava mais alto, que tinha graça, sabia sempre as melhores anedotas. Que se queixava da bílis depois de uma noite bem regada. Antes da moeda ser europeia, guardava sempre uma nota de cinco mil escudos, dobradinha, no bolso das calças de ganga, que emprestava num sorriso a alguém aflito: "pagas depois". Nunca ninguém ficou a dever-lhe.

A genética

Ouvimos Frank Zappa na placidez da Venda do Cepo. O sol brilha depois de dias carregados de nuvens e aspergidos a chuva. A família preparava-se para um passeio, ao santuário da Senhora da Lapa.

As moscas estão excitadas com o regresso do calor...

O tio Francisco, 60 anos tristes, tem o cabelo negro e cada vez se parece mais com o avô António Maria, até na curvatura das costas a caminhar.
A tia Teresa linda com os seus 52 anos, sempre a melhor de todos. Os atrasos são sempre culpa dela que cozinha, trata da família, lava e arruma a cozinha e não prescinde do tempo necessário para se por ainda mais bonita.
O tio José reclama que é sempre uma demorada com as maquilhagens e essas coisas de mulheres. Mas não resiste a um piropo quando a vê por fim pronta.

Quando regresso à aldeia da família e olho os montes e os cabeçudos imagino-me invariavelmente, numa outra reencarnação, uma camponesa maluca que andava pela Serra do Pisco a pastar as minhas cabras. Ao entardecer ordenhava-as e fazia queijo com aquele leite saboroso...

Às sextas-feiras empreenderia cedo o dia. Tratava dos animais e metia os pés ao caminho. Se é que se poderia chamar como tal. Eram mais trilhos por entre montes e cabeçudos e a solidão dos pensamentos. Fazia cerca de dez quilómetros para ir à vila vender os seus queijos na feira semanal.

Feira brava que reunia gentes de todos os concelhos, que saíam, alguns, ainda mais cedo que Rosalina, para vender e comprar. Muitos traziam gado e havia a zona destinada a tal. Utensílios para a lavoura, legumes, sementes e tudo que possam imaginar e existisse... Não se podia esquecer de passar na Conceição para comprar as ceroulas para o José Augusto, o filho querido que estava na Guarda a cumprir o serviço militar...

Rosalina ocupava a terceira banca, junto com outros habitantes da sua aldeia. Cada um vendia os excedentes da agricultura de subsistência. Rosalina como as demais mulheres além do trabalho rural e do tratamento dos animais, dos filhos e da casa, fazia queijo de cabra, curado na cozinha, dentro de um engenhoso armário com rede que António tinha feito. A lareira sempre acesa encarregava-se de ajudar o processo.

Teresa ajudava-a muitas vezes. Punha carinho em tudo que fazia e era uma pequena mulherzinha de dez anos. Com desvelo ajudava a mãe, tratava do pai e dos irmãos. Eram 7. A Zulmira, a Otília, o Aleu, o José, a Carmo e o Francisco. O Vasco não tinha sobrevivido ao primeiro inverno.

Teresa era a mais doce das filhas. A mais bonita. Nesse ano adoeceu gravemente. Nunca foi ao médico. Nunca sabe o que teve, lembra-se do que sentia e de como quase deixou de andar.
Rosalina deve ter feito uma promessa à Nossa Senhora da Lapa, que lhe salvasse aquela filha. Que não lhe levasse de novo um filho. Os seus olhos azuis ficavam baços cada vez que recordava a imagem de Vasco agonizante, sem que ela ou alguém pudesse ajudar. Mais tarde recordava-o como um anjo que passou pela família e velaria sempre por todos. A sua religiosidade era quase tão grande quanto a aversão de ver António beber...

António bebia mas amava muito aquela mulher pequena de cabelo negro e gestos nervosos e ágeis. Adorava a sua pele branca com aqueles olhos azuis, os gestos rápidos e certos, o corpo pequenino cheio de lugares a descobrir.

A vida que sonhamos...

Nuno saiu de casa e andou. Passou pelo carro, olhou e continuou, assim... Clara tinha dito que viria mais tarde, e quando Clara o dizia; apareceria no dia seguinte, à noite, e Nuno cansado do trabalho perguntar-lhe-ia: “Já jantas-te?” E ela responderia qualquer coisa do género; sim, sim, comi alguma coisa...

Por isso, Nuno, saiu de casa.

Nesse dia apetecia-lhe andar...
Pensou em Clara. Quando eram os dois jovens e rememorou, agora, as suas rugas, depois de amar. Clara já fora jovem! Agora envelhecia, sem o conseguir evitar, tal como ele... Os filhos cresceram e silenciosamente restavam só os dois. Restos de uma família possível...

( Os filhos prosseguiam as suas vidas nem sempre bem nem sempre assim... )

Sentia-se tão sozinho mas não lhe apetecia companhia.
Sentia uma dor que dificilmente partilharia com alguém.
Chegou o dia de saber que envelhecera e podia sentir-se, assim, como tal...

O dia em que não podemos fingir ser quem não somos. Quase como o primeiro dia do resto das nossas vidas, tipo Sérgio, Godinho.

Clara regressou a casa e sentiu alivio de estar sozinha. Sem ele sempre a sorver, enfim; a falar para o umbigo: ele cansava-se de falar e ela cansava-se de o ouvir! Inventava acontecimentos para a hora em que o sabia de volta, para não o reencontrar em casa. Depois ele regressaria tarde e ela fingia dormir. Ou fariam aquele amor de velhos, sem novidade. Ela arfaria, de dor, da sua secura e da inabilidade dele tentando entrar dentro dela e quando tudo acabava disfarçava a desilusão.


“Adoro-te Nuno, foi muito bom”.
“Clara!”, dizia a fingir-se encantado, como das primeiras vezes.

Ao longo dos anos cansaram-se da mentira e já não o diziam. Acendiam um cigarro, acendiam a televisão, fechavam a janela, abriam a janela. Tudo ficou diferente depois daquele dia.


Depois de nascer a Rita, Clara decidiu laquear as trompas. Tinha quarenta anos e três filhos. Quando ela entrou na menopausa deixou de se interessar pelo sexo e facilmente inventava dores de cabeça. O Nuno engravidou alguém numa relação sem futuro.

Foi assim que Clara teve Mariana, a filha que não esteve dentro dela. Mas também foi assim que Nuno a perdeu definitivamente.

Passatempo com prémios maravilhosamente inúteis

Dão-se prémios maravilhosos a quem deixe comentários neste blogue.

Esta semana, prepare-se, temos para oferecer: um (1) bilhete da Carris pré-comprado, ainda com uma viagem para obliterar; uma (1) lata de Pepsi Twist, meio bebida, mas ainda com gás; uma (1) coleira anti-pulgas, encarnada com o logotipo do SLB cravado a canivete,para gato ou gata, válida ainda para mais ou menos 23 dias.

Para se habilitar a estes prémios sen-sa-ci-o-nais basta comentar os dislates deste blogue.

Agradecida.

A Gerência,

Eu.

sexta-feira, julho 15, 2005

Ao Amigo que não esqueço

“Estar lúcido é como uma ilusão”
José Serra

Professor és o maior!

Volta, Professor, os ciganos estão realojados e a porteira calma...

A Associação abriu as portas de novo, mas continua-mos do teu lado! Força Professor! Juntos venceremos! As minorias serão diminuidas pela maioria!

Adoro o meu Professor, que me empresta livros do HH e é um querido lutador, sempre a sonhar o mundo um lugar diferente...


P.S. Mãe o senhor mágico?

Ultra beijo da família.

quinta-feira, julho 14, 2005

"Bárbara, Lisboa está contigo, o PS está contigo!"..., Diz Jorge Coelho.

Tenho impressão que houve um erro de casting e deixaram o Carrilho candidatar-se!
... não sei...

A Caminho da Linha Girassol

Outra quarta-feira
O cabelo molhado a alma a escorrer
O pensamento como um cavalo selvagem
A paixão de um sonho que podia ser já
Lá fora as crianças no intervalo da escola
Os sons passam por mim nada deixam
São apenas a realidade
O fora
Cá dentro o cabelo molhado e o olhar cansado
As noites dormidas à pressa as alvoradas avulsas
Fica para sempre este sabor
Este enormíssimo sabor
Este sabor a despojado!

Dói-me o tempo que passa incólume a dor que corroeu
A impotência de me saber
O sentido do caminhar
O peito bate agitado
Em sobressalto
No fio da navalha
Uma vida
As folhas irão cair todas hibernar até à próxima primavera!

Sentada na paragem de camionetas suburbanas
Os carros passam mesmo à beirinha
Na estrada
Indiferentes
É o ir e vir de um dia de semana
Outro
Outra quarta-feira

Mas parece tudo sempre assim
Perdeu a cor
Ou perdi o olhar com que via?

A incerteza
A ter como principio
De procurar certezas sinto-me cansada!

Os carros param nas passagens para peões
Atravessam figuras cinzentas com sacos de supermercado pelas mãos
A sobrevivência ou tentativa

A viagem parda no autocarro
Em silêncio calam-se os pensamentos

Agora no metro
Aguardo que venha
Somos muitos nesta espera sombria
Rostos carregados de mutismo

Uma senhora aborda-me
Pede-me orientação para a sua desorientação secundária
As minhas indicações simples e directas confundem-na
A sua limitação é constrangedora

Há pessoas que deixam o cérebro de molho até à hora de assistir à próxima novela

Vivem felizes
Ignorantes e narcotizadas

Não procuram o que não conhecem com medo de encontrar alguma coisa

Vou na carruagem
Tudo é viagem
E isto é só Outra quarta-feira

Alice dos rissóis

Dona Alice fazia rissóis de camarão e croquetes de carne que vendia há quase uma década. Era conhecida, não só na sua rua, mas também na freguesia onde fornecia alguns estabelecimentos, cafés e restaurantes. Também vendia para particulares e recebia encomendas para festas, casamentos, baptizados. Era reconhecida pela excelente qualidade final dos seus produtos, para além disso era muito agradável, sempre de sorriso aberto, sempre com uma palavra amiga para todos.

Foi ficando a Alice dos rissóis, alcunha pela qual responde ainda, tanto tempo passado. Ainda há quem se lembre dos seus pastéis embora não os faça mais. Fazia-os para ajudar o marido. Tinham acabado de comprar o apartamento, tinham que pagar à sua irmã a parte deles. Inicialmente a casa fora alugada pelos dois casais. Quando foi posta à venda acordaram com a irmã e o cunhado darem-lhe um valor e adquirirem eles a casa. E assim se fez. Umbelina e Manuel com o dinheiro compraram um terreno nas redondezas e construíram a habitação, onde hoje vive ainda a sua única filha com o marido e os dois netos.

Júlio, o marido de Alice, era condutor nocturno de táxis, com praça no Cais do Sodré, onde conhecia todos os bares e todos os “operários”...
Era um noctívago, alfacinha nascido na freguesia do Socorro e criado em Carnide. Fumava quase três maços de tabaco, Porto e muito mais tarde substituído por SG Filtro, e bebia uma média de 8 cafés por dia. Desde que começara a conduzir o táxi, tinha deixado de jogar no Palmense, onde ficara na história do clube, conhecido até nas ex-colónias, nomeadamente em Moçambique, durante a Guerra Colonial, como o guarda-redes mais destemido a sair às bolas. Completamente louco! “Ai, que o gajo matasse!”, repetia o público assistente, cada vez que Júlio voava em direcção à bola ou aos adversários, aterrando na terra batida, sem qualquer protecção.
O Agulhas. Desde criança, ainda sem ir à escola, sabia contar e conhecia o dinheiro e tudo vendia, para ajudar o parco orçamento familiar, agulhas, alfinetes, de nada fazia dinheiro, que dava inteirinho à mãe Ermelinda, que adorava. Dora a irmã gémea às vezes para o aborrecer conseguia tirar-lhe as moedas que escondia no quarto de cima, o dos pais, por baixo do enorme relógio que batia as horas.


Tentaram ligar a Alice, no dia anterior, do hospital, tinham desistido do Júlio, continuo a achar que ele é que desistiu de nós, mas como ela tinha estado todo o dia fora acabaram por dar a notícia ao filho, pois era o outro telefone para "estados inovadores numa situação estagnada". Coube ao filho receber a má nova.





O Júlio levou o que sobrava de quase nada do todo que fomos. A nossa família. Bem ou mal era a nossa família...


A vida tem razões que queremos desconhecer, ignorar, desvalorizar. Teremos medo das mensagens ou de ser apenas?

Evitei vê-lo na agonia final. Não fazia sentido. Era só uma imagem desfocada descolorida. Nunca mais voltou a olhar-nos. Nunca mais tivemos de tentar entender o seu balbuciar...

O fim é irredutível e dolorosamente real...

Aos poucos os passos voltaram a calcorrear os caminhos e reatou-se a mesma vida com a memória mais pesada. As mortes deixam um peso que só se nos torna aceitável depois de o ter carregado.
Renasce aos poucos de novo a fé em dias felizes.

A viúva menopáusica

Era uma vez, ou: Quase muito de repente olhou-se naquele espelho da tia Celeste que ocupava agora uma das paredes da sua sala e viu-se como era.

Tinha tanto medo de crescer que envelheceu calada e agora que enviuvara há menos de um ano via-se menopausica, com veias salientes nas pernas, obstipação crónica e pregas caídas por todo o corpo. Se não fosse alta míope teria visto também a cor à volta dos olhos, os pés de galinha, o buço e a barba, rugas e rugas das vezes que riu e chorou, milhares de linhas de expressão...

Pior que a dor de perder alguém é ouvir finalmente o vazio dentro de si. Sentir que nunca vivemos para nós mas em função de alguém, quem partiu ou deixou de existir... Saber, a frio, que as hipóteses de começar de novo são remotas e talvez nem tanto assim desejadas...

O Álvaro Cunhal também morreu.

Ela ainda se lembrava daquele primeiro de Maio, quando saíram todos na manifestação, o camarada tinha chegado do exílio e como juntos tinham calcorreado as ruas. Eram tão novos, escandalosamente jovens e idealistas. A vida encarregou-se de matar tantos sonhos e ideais. O comunismo provou ser apenas mais um ismo e não a concretização das cogitações de Marx.

Tudo acabou, pensou soturna, deixei de ser jovem, tenho o cabelo fraco e baço, as hormonas falidas.

Ficava triste de já não poder conceber nem procriar.

Nunca tinham tido filhos, porque o Hélder nunca quis e ela era a sua mulher, a sua companheira, que o aceitara e amara e apoiava em todos os projectos de vida.

Só mais tarde, ao falar-lhe, cansada dos métodos anticoncepcionais, ele acabou por lhe confessar que era estéril.

Hélder sempre o soubera e nunca lho dissera.

Ultra-ultra-ultra tédio

Quando finalmente se aproximam as férias e começa a ser mais leve circular pela cidade sobrando lugares de estacionamento e para sentar nos transportes públicas, as pessoas ganham cores e fazem dieta, até a vizinha de baixo mete os raiban a calça de licra e esgaça por aí a fora, no passeio, fazendo gincanas ziguezagueando entre os dejectos caninos, bem, finalmente, dizia eu, vejo-os partir, vejo-as partir e fico aqui feliz por saber que também eu irei de férias...

Daqui a um mês!

Estou tão feliz!

Falta tão pouco!

(Não me perguntem para onde vou, eu quando
voltar logo direi!)

O Vitor Pêra regressou do tumulo...

Vitor Pêra é um super-herói "sui generis". Por exemplo: é completamente incapaz de gerir o tempo e perde-se pelas rotundas deste país.

Depois regressa fascinado, apesar de ter esquecido Martim Pêra, "Chóninha, Chóninha, se tu visses o que eu vi?"

Vitor Pêra fez a A1 com António Costa e viu o poder dos incendiários...

E Helena Pêra teve de esticar o bracito e alcançar Martim Pêra, pela linha de telefone, primeiro tia mané, a super-melanócitos, e depois avó Fáma, sempre em forma.

" Ó filha, quando for assim..."

Irrita-me uma dependência que não preciso, nunca precisei!, em nome de alguém que se expressa por meias verdades, às vezes...

Os super-heróis já não são o que foram.

quarta-feira, julho 13, 2005

Hoje eu estou de mal!

Existem picos no meu ciclo. Alguns inofensivos, outros não. Ou posso ser a mais maravilhosa das criaturas super-heróis ou a mais filha-da-puta!

Hoje estou com os genes maternos dos super-Bernardo!

Os super-Bernardo são o meu lado materno de super-herói. Fundamentalmente são a minha parte má. A boa, das boas acções, vem do lado paterno.

Os Bernardo são os tentáculos que se rejeitam.
Os De Jesus e de Deus e dos Santos os que pagam as promessas prometidas pela humanidade. Os que abnegam em nome de nada, os que ficam para fechar a porta!

Por isso eu sou assim: selvagem e domesticada q.b.; com pêlo na venta quando a autoridade se ausenta. Sou a que não cala o que sente, impulsiva como os Bernardo e mole como os dos Santos

Esta madrugada

O filho Pêra está a fazer antibiótico e a podre da mãe tem de acordar todas as madrugadas às três para o fazer emborcar o dito, cujo.

Esta madrugada, mãe Pêra fez como tal, alarme, tal, tal, tudo muito bem.

Mas acordou tão frenicoques, que bateu com a testa, na porta da casa-de-banho, com o osso da púbis, no lavatório, ao mesmo tempo que teve uma paragem digestiva, seguida de uma quebra de tensão, com o corpo quente e frio e a sensação de desmaiar iminente.

Mãe Pêra julgou, primeiro, estar a ter um AVC, seguido de aneurisma cerebral para culminar com uma disfunção cardíaca qualquer seguida de um pneumo-torax...

Helena Pêra é hipocondriaca...

Ao sentir que iria perder os sentidos, perdeu?, e à beira do não-conhecido, pensou em Deus... Ou numa ideia muito sua e à sua imagem...

Super-Maria Frenética, amiga da família, dizia não acreditar num poder superior, mas à força da necessidade acabar por o atribuir a uma caixa de sapatos guardada por cima do velho guarda-fatos em casa da mãe.
E cada vez que poderia invocar o Deus, em cuja entidade não crê, revia a velha imagem da caixa de sapatos e sentia-se tranquila e crente em algo diferente, melhor... O poder da imagem...

Resumindo:

Cada um acredita naquilo que quer...

Mulher doente mulher para sempre...

terça-feira, julho 12, 2005

Manual dos Frustados, Fodidos e Oprimidos, ou,desculpa Nariz de Ferro, temos um gosto semelhante! ... acho eu...

" Eu me preparei para enfrentar a adversidade. Estou acabando de escrever o Manual dos Frustados, Fodidos e Oprimidos. Nele descrevo, minuciosa e sistematicamente, os métodos mais sujos e destruidores para se ir à forra de qualquer inimigo, seja ele quem for, forças armadas, companhias de serviços públicos, companhias de cartões de crédito, bancos, a polícia, o proprietário senhorio, a loja comercial, qualquer pessoa ou instituição que tem força e sacaneia os outros. Ensino a técnica adequada para devassar, desmoralizar, arruinar, aniquilar, exterminar indivíduos e organizações odiosas, mostro como atacar saindo das sombras, como atormentar e destruir sem misericordia. Pela sua cara vejo que não gosta de mim."
(Esse livro, na verdade, nunca foi escrito. Nariz de Ferro gostava de jactar-se não apenas das coisas que havia feito, mas também das que ainda ia fazer.) "


" A Grande Arte", Rubem Fonseca, 1983


Descobri que alguém tem um Nariz de Ferro como o meu, estupidamente gostamos de algo parecido... Como se fosse possível... Obrigada Rubem por criares pontes que não existem!

Às vezes tenho dentro de mim um Gabriel Alves,...

... Ou Como eu fui ali e vim para aqui...

Estou muitíssimo bem aqui, na Colina, nem dei por entardecer, já é noite, se não perder este "póstie", a gente, pá, vá, a gente encontra-se, Vá!

Filho de pais separados, mãe padeira, pai canalizador, um metro e oitenta, 78 kg, tique de morder lábios e fugir, toalhas de praia de laboratório, estendidas com três molas amarelas, delirios, ...

Oferece-se candidata a poder local.

Jovem, sem doenças declaradas, sem dividas à segurança social nem ao fisco, apenas com conta bancária em território nacional, sem silicone mas com tudo no sítio, oferece-se para servir qualquer cor política, em qualquer autarquia do país.

Sei ler, escrever quase sem erros, ainda me lembro da tabuada e sei aforismos, como o nosso primeiro. Tenho apoio familiar à minha eventual candidatura, nomeadamente o meu filho que já sabe falar.

Puderei subsidiar a minha própria campanha, uma vez que sei pedir subsidios para associações que só existem no papel.

Fico à espera de possíveis interessados nesta minha oferta desinteressada.

Assino,

Eu.

segunda-feira, julho 11, 2005

Segunda-feira, com sono e ausente...

"Eu Rosie, eu se falasse, eu dir-te-ia"

Eu Rosie, eu se falasse eu dir-te-ia
Que partout, everywhere, em toda a parte,
A vida égale, idêntica, the same,
É sempre um esforço inútil,
Um voo cego a nada.
Mas dancemos; dancemos
Já que temos
A valsa começada
E o nada
Deve acabar-se também,
Como todas as coisas.
Tu pensas
Nas vantagens imensas
De um par
Que paga sem falar;
Eu, nauseado e grogue,
Eu penso, vê lá bem,
Em Arles e na orelha de Van Gogh...
E assim entre o que eu penso e o que tu sentes
A ponte que nos une - é estar ausentes.

Reinaldo Ferreira

sexta-feira, julho 08, 2005

Adjectivar, até morrer!

Estive aqui a cogitar: somos só aqueles que não querem dormir quando o corpo e a alma dizem: dorme bem... Engana-mos a sede, o ar, aquilo que vier...

O sol nasce cedo e tarda em anoitecer.
A voz, ausente, cala o desencanto, soando, familiar...
A coisa repetida...

A cor dos dias
O sabor perdido
A voz sem percussão,

Soa-me a sempre

O som
As mãos
O sangue

[Não meu! mas, dos outros...]

( ... gosto do Sangue dos outros!)

**** A electricidade oscila ****

Usados e gastos

Caimos

O Céu a tapar o não...

Roço qual sou sem o ser,
Sou como sou pudendo ser quem não sou!

C L A U S T R O F Ó B I C A
EM
J O R G E * P A L M A

quinta-feira, julho 07, 2005

Família deitada, família arrumada...

...

e três pontos parágrafo

A família quietinha é do melhor que pode haver, embora não pareça... Mas como nem tudo o que parece é, vamos ali e já voltamos: alguém on-line capaz de me ensinar a verbalizar? ? ? ? ? ? ?

Aprendi a elaborar provérbios com a vida que tenho: ela inspira e não transpira, felizmente...



Agora estou só, sem gata, sem nada, todos dormem e eu persisto nesta incerteza de estar acordada, sem eco, sem reflexo,...

...
...
...

Família arrumada é família a dormir... Ronc... Onc... Oiiiiinnnnnnnnnnnnnccccccccccc, como ressonam, felizes....

E quem sou eu?

Dharma está ali, ao fresco, olha a própria sombra. Está fascinada! Vitor Pêra, de boxer com galinha ainda se pronuncia sobre o caril do jantar.
Helena Pêra tenta desesperadamente abrir a janela; a net...

Dharma mudou de direcção mas sempre procurando a sua sombra. A sombra que a luz faz no escuro lá fora.
Já é de noite não se vê lua, deve ser minguante, a depilação correu mal; e ainda tenho de ir cortar o cabelo: vou ficar nojenta!

Há-de haver o dia em que direi quem sou
o dia de não adiar o que se não quer dizer
o dia de não fugir de mim e dos outros
o dia de não complicar o simples
o dia do dia que virá... Talvez sim, ...

A gata deve estar maluca porque ainda está ali, a olhar a própria sombra.

quarta-feira, julho 06, 2005

Ele grita senhor, ele grita!

Ultra pai deita ultra filho treinando em conjunto a leitura, Dharma Pêra está louca ao rubro sem saber das contratações do SLB, clube de eleição... Helena pêra lixa o resto do verniz no teclado ranhoso, fim de século.

Martim Pêra grita alegre e contente enquanto despeja os últimos líquidos do dia. Helena Pêra relembra-lhe a permeabilidade das paredes.

Faz-se noite em casa dos super heróis...

Um entardecer lindo a sugerir calor para depois de hoje... Amanhã outro dia... Pegarei na minha super-capa (Sou reformada, mas mantenho os super-poderes em stand by: não entrego regalias a que tenho direito; assim como quem não quer a coisa!) e voarei para longe, para um sítio onde me sinta incomensurávelmente só...

A renovação do ar




Para lá das árvores fica a terra e mais além o mundo. Fico aqui inquieta com falta de ar uma dor no peito que se não cala.
Pede-se a quem encontrar alguém parecido comigo o fazer de o mandar ter com a própria. Eu. Ouço o vento lá fora na tarde de estio fumo o cigarro, vício que prometi largar em breve. Sonho com dias diferentes. Todos partem para férias e eu por cá. Também quero ir!



" ... não te deixes invadir por essa ternura delicodoce, fanada, a saudade à portuguesa; endurece; ou sucumbes."
Sebastião Alba, Albas



o vídeo de Diana Adringa

www.eraumavezum arrastao.net

terça-feira, julho 05, 2005

Azia existencial

A família Pêra esteve todo o fim-de-semana com SPM. Embora só Helena Pêra possua ovários, o facto é que levam todos por tabela: a instabilidade da mãe pega-se à pele da restante família. Até a gata Dharma já regula os seus ciclos pelos da dona...
O pai Vitor Pêra, detentor do título "Santa Paciência" desde 1995, data em que descobriu que Helena Pêra era uma "falsa magra", mais uma vez esteve no seu melhor. Desta vez só perdeu uns euros acabados de levantar no multibanco, todo trocado com as trocas da mulher. É o preço a pagar por viver com uma super herói reformada e ainda com um útero activo...

Os números também são gente!

O onze olhou para o doze e perguntou-lhe pelo dez: "Sabes dele?". O doze ignorou-o e piscou o olho ao treze: "Olá boneco, tens estado com o catorze?"...

O quinze tinha ido com o catorze e o dezasseis às docas.

Encontraram o dezassete, todo languido, cheio de lascivia, enrolado com o dezoito. Este disse-lhes: " Se virem o dezanove ou o vinte, faz de conta que não sabem de nós."

"Retrato da semana", Público, 3/7/2005, António Barreto

"Como é possível?..."

" (...) Os cidadãos têm, claramente, responsabilidades. Elegeram quem quiseram. São complacentes com a corrupção. Aceitam a demagogia. Não desgostam da aldrabice, desde que bem feita. Desculpam sempre "os seus", do clube, do partido, da autarquia, da empresa ou da família, porque há sempre sobras para distribuir. Detestam o fisco e as respectivas obrigações. Tentam trabalhar pouco. Chegam tarde ao emprego. Metem cunhas. Estudam pouco. Não protestam contra a justiça que têm. Não se revoltam contra a escola deficiente. Não se mobilizam contra as filas de espera nos centros de saúde e nos hospitais. Não se organizam contra o mau atendimento da maior parte dos serviços públicos. Não protestam contra o atrevimento, seguido de erros, desastres e colossal desperdício das obras do Terreiro do Paço. Deixaram estes fidalgos arruinados fazer dez estádios de futebol. Como vão deixar comprar inúteis submarinos e aviões de combate, construir um estúpido TGV e um faraónico novo aeroporto. E não se importam com o colossal desperdício da educação e da saúde, com a preguiça na justiça, com a criação artificial de emprego na Administração, com a fundação de inúteis organismos públicos e com a construção de uma "cidade administrativa" ou de um "complexo judiciário"."

segunda-feira, julho 04, 2005

Segundas-feiras, do meu descontentamento

Tenho um sentimento de aversão às segundas-feiras,desde quase sempre. Esse sentimento caracteriza-se por um crescendo, que começa ao domingo e acaba por me dominar completamente à segunda-feira, demanhã.
Será talvez um medo não confessado pelo retorno a nada, será aquilo que queiram, mas é mesmo um filho-da-puta de "insight" que me bate forte devagarinho quase a soar a vento não o sendo...

(Chuva não pode ser!)

Este início de semana teve um sabor quase desconhecido, o gosto a diferente. Sem conflitos...

Apeteceu-me começar a semana sem sentir o domingo. E não é que...
Foda-se!, resultou!

E daqui a pouco será terça-feira e eu aqui para vê-la!

sexta-feira, julho 01, 2005

Há uma nuvem no meu olho

Quero deitar e sonhar outro sonho Outra vida
Não o de ontem Não a de hoje
Só aquele e aquela que nunca virão.

O remanso A ternura esquecida no livro fechado
O agora Já O assim.

Há uma nuvem no meu olho direito
Há qualquer coisa nos meus ouvidos
Um som de mar que ficou...

A areia da praia é sempre diferente
As ondas vêm e vão num movimento perpétuo

Fé renovada no vazio, no que ainda não é podendo ser...

No fundo da tua alma o meu cheiro
Desencontrados Os teus olhos parados
Cheira a insatisfação no ar A pardacento

Sou assim como sou
Carrego no ventre o sonho adiado
Sinto no dia a força esquecida
Perco-me

À noite quero dormir e esquecer
Quero sonhar e lembrar