"Eu me preparei para enfrentar a adversidade. Estou acabando de escrever o Manual dos Frustrados, Fodidos e Oprimidos. Nele descrevo, minuciosa e sistematicamente, os métodos mais sujos e destruidores para se ir à forra de qualquer inimigo, seja ele quem for, forças armadas, companhias de serviços públicos, companhias de cartões de crédito, bancos, a polícia, o proprietário senhorio, a loja comercial, qualquer pessoa ou instituição que tem força e sacaneia os outros (...)"
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quinta-feira, dezembro 28, 2006
Desejar
O Natal passou. Agora gastam-se os dias que faltam para mudar de calendário. Não recebi a prenda que pedi mas não perdi a esperança de ainda a receber, já que é Natal sempre que um homem queira.
Adiante. É "tradicional" encerrar as contas e fazer um balanço. O que passou e o que há-de vir. Confesso que nunca o fiz. Nem nunca consegui comer doze passas e formular desejos. Limito-me, quanto muito, a desejar fumar menos ou coisas assim triviais que acabo por não cumprir.
Este ano vou desejar receber a prenda que pedi. É a única coisa que me ocupa o pensamento. É a única coisa que importa. Que o ano de 2007 traga muita saúde para quem dela precisa. E que tudo o que é verdadeiramente importante para nós o possa continuar a ser.
quarta-feira, dezembro 27, 2006
segunda-feira, novembro 20, 2006
sexta-feira, novembro 17, 2006
Dá-me a tua mão...
... dou-te a minha, também.
Tens o coração a esfriar, a assumir tons neutros.
Tens a cabeça a fervilhar de ilusões e desencantos.
Tens um sorriso triste que não acende lume.
Tens os membros fracos, habituados a ficar quietos.
Dá-me a tua mão.
Dou-te a minha, também.
Vamos colorir,
Vamos realizar,
Vamos rir,
Vamos caminhar.
Ou, se quiseres, podemos ficar só assim,
Dá-me a tua mão.
Dou-te a minha, também.
Hoje acordei com borboletas no estômago, nos olhos, nos rins, no fígado, no pâncreas, em todos os orgãos. Em todos os sentidos. (Obrigatório contornar a rotunda e escolher um caminho.)
quarta-feira, novembro 15, 2006
Sonhar
Há o que há e o resto não há.
Quem use sapatos e sinta o chão.
Quem avance devagar e vá longe.
Outros são outros.
Palmilha-se em cima de pastilhas.
Espreita-se o dia, a medo.
Venha o dia.
terça-feira, novembro 14, 2006
Pintamos a vida de azul e doirado para que a luz penetre...
... ficamos à espera do sol...
... e o dia nasceu.
Veio o dia
e
veio a noite...
... o dia cheio de pujança.
A noite,
algo tímida,
esperando a sua hora...
Estendemos a mão à vida
e
saímos,
assim,
para sentir de novo o sol...
Despedimo-nos do dia,
e ficámos com a noite,
que,
mansamente ofuscada pelo dia,
surgiu resplandecente.
A noite pelo dia.
domingo, novembro 12, 2006
quarta-feira, novembro 08, 2006
A impermanência
Acordo cedo. Visto-me. Saio de casa e vivo o dia. Volto para casa. Espero por ti. Dispo-me. Do dia. Da roupa. Sorrimos ao tempo. Brindamos à vida. Dispo-te. Amo-te, com sede de ti. Dou-te de mim. Acabamos a rir, cúmplices... Guardamos a memória doce do encontro dos nossos olhos, depois de amar. Durmo. Acordo cedo. Visto-me. Saio de casa e vivo o dia.
"A Minha Certidão"
JOÃO CÉSAR MONTEIRO
in Revista &ETC, Nº 8, 30/IV/1973, pag. 19
segunda-feira, novembro 06, 2006
"Pintelhinho, Pintelhinho..." João de Deus in "A comédia de Deus"
"O amor é uma coisa bastante embaraçosa. Pelo menos da forma como eu o entendo: como algo de absoluto. As coisas que aprendemos na vida podiam levar-nos a relativizar o amor. Isso se eu tivesse algum bom senso na cabeça. Não é o caso. Há uma teimosia em entender o amor como coisa absoluta. Sendo absoluta, não é possível. Ficamos com a ideia."
João César Monteiro
"Incapaz de escrever uma linha, hoje. Dói-me a alma, e o pensamento é um navio perdido em mar de bruma. Incapaz de me nortear, de sequer me aguentar, erecta, neste chão donde brotei como uma árvore. O que é que tenho? Quem é que me fez mal?."
Maria Ondina Braga, in "A Personagem"
quinta-feira, novembro 02, 2006
Um dia feliz. Obrigadinho!
Já consigo respirar! Já não ando com os pañuelos sempre atrás. Agora a luta é só entre os pulmões e a maldita da nicotina que se agarra e não quer sair do corpo. Tomo Oxolamina e aguardo. E de resto? O resto, que é tudo, vai correndo docemente, em tom outonal. Ontem o Pêra velho foi trabalhar e fiquei com o Martim Pêra todo o dia, a rir, a brincar, a rever ad infinitum a "Idade do Gelo 2". Só saimos para ir tomar café, comprar o belo pão alentejano e visitar o senhor do quiosque, que vende jornais, revistas e quejandos. Ataque de riso, claro. Pedi ao lobito para se controlar mas não resistiu. O homem têm um sotaque espectacular de uma aldeia perdida nas montanhas deste país. E tem o vicío de se despedir com um: Obrigadinho e um dia feliz! O Martim começou a gargalhar ainda antes de dobrar a esquina. É que ele é mesmo engraçado! Vamos comprar o jornal e ele tenta vender tudo, copos do SLB, SCP ou FCP e outras borracheiras que saem com a imprensa a um preço irrisório. Será que alguém compra aquilo? As pessoas já quase não compram jornais e revistas.
O resto do dia foi passado sem nada fazer que também é uma forma de fazer alguma coisa.
Amo-te Flecha! Um beijo da tua mulher elástica.
segunda-feira, outubro 30, 2006
Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.
Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.
Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina.
Álvaro de Campos, Poemas
sexta-feira, outubro 27, 2006
Fotografias de Misha Gordin
Ouço-te muito longe. Sigo. O teu olhar é só o teu olhar. O de sempre. O mesmo. Caminho soprando o dia para trás. A vida doce. Vida vida vida. Vida.
Verti na pia. Na casa dos homens de vida vazia. Além do azul infinitas cortinas de amargas pulsões, bafos e faróis, estufas. Vida.
Toquei na ferida, nos nervos dos fios translúcidos. Fui feliz no palco de infinitas cortinas. Veias. Vazias. Faróis. Sinais. Estufa. Vela. Longe. Mais. Vida.
Adormeceu e desligou a alimentação central. O dia iria nascer em breve.