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terça-feira, abril 03, 2012

Mulheres de Atenas




Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas

Quando amadas, se perfumam

Se banham com leite, se arrumam

Suas melenas




Quando fustigadas não choram

Se ajoelham, pedem, imploram

Mais duras penas

Cadenas




Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Sofrem por seus maridos, poder e força de Atenas

Quando eles embarcam, soldados

Elas tecem longos bordados

Mil quarentenas



E quando eles voltam sedentos

Querem arrancar violentos

Carícias plenas

Obscenas




Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas

Quando eles se entopem de vinho

Costumam buscar o carinho

De outras falenas




Mas no fim da noite, aos pedaços

Quase sempre voltam pros braços

De suas pequenas

Helenas




Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas

Elas não têm gosto ou vontade

Nem defeito nem qualidade

Têm medo apenas



Não têm sonhos, só têm presságios

O seu homem, mares, naufrágios

Lindas sirenas

Morenas




Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Temem pro seus maridos, heróis e amantes de Atenas

As jovens viúvas marcadas

E as gestantes abandonadas



Não fazem cenas

Vestem-se de negro se encolhem

Se confortam e se recolhem

Às suas novenas

Serenas




Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas.








BUARQUE, Chico, BOAL, Augusto.