O meu nome é Vitória das Virtudes. Só herdei o apelido da minha mãe porque sou filha de pai desconhecido. A minha mãe num arremesso de cogitação levada aos limites pensou ter finalmente chegado ao tão almejado progenitor e a modos que para comemorar me pôs o nome Vitória.
Afinal o senhor Cândido da mercearia nada teve a ver com o assunto. Para mais confirmou-o com um atestado do seu médico de família onde se podia ler preto no branco que o infeliz era estéril.
Não havia volta a dar! Fiquei Vitória porque a minha mãe já se tinha habituado ao nome e acabei por ser registada apenas com Virtudes da parte materna.
A minha progenitora ainda esteve para falar com o senhor Mário, das entregas de bilhas de gás butano, ou com o senhor Artur, do talho onde se abastecia, ou com o senhor Eugénio, vendedor ambulante de fruta, mas acabou por deixar as coisas como estavam porque poderiam ser ou não, o melhor era não arriscar mais.
O marido da minha mãe ficou tão confuso, confundido, como de resto sempre foi, que nem se apercebeu da coisa e dizia a todos que eu era a cara dele! Quando lhe perguntavam “atão a cachopa nã tem o teu ‘pelido?”, dava a resposta de minha mãe: “aqueles burros da inscrição das criaturas nascidas enganaram-se”...
4 comentários:
Quem me dera poder etr essa criatividade serena e densa.
confesso que ri e chorei. ri porque me fez rir a forma do texto. chorei porque me lembrei de uma das músicas mais tristes que conheço, "minha história" de um poema de Gesubambino, cantado por maria bethânia
adorei o teu post.
escrito com muito sentimento, "vivido" com muita doçura e firmeza. acho muito "visual" a tua escrita.
um abraço
graziela
Gostei imenso. Histórias embrulhadas como eu gosto! Um beijinho.
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