
«Dormia tudo como se o universo fosse um erro; e o vento, flutuando incerto, era uma bandeira sem forma desfraldada... Esfarrapava-se coisa nenhuma no ar alto e forte, e os caixilhos das janelas sacudiam os vidros para que a extremidade se ouvisse. No fundo de tudo, a noite era o túmulo de Deus (a alma sofria com pena de Deus).
E, de repente - nova ordem das coisas universais agia sobre a cidade -, o vento assobiava no intervalo do vento, e havia uma noção dormida de muitas agitações na altura. Depois a noite fachava-se como um alçapão, e um grande sossego fazia vontade de ter estado a dormir.»
(Livro do Desassossego: Composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa / Fernando Pessoa)
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