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quarta-feira, março 28, 2007

Imagem de Arnaldo Antunes



" (...) repensar a existência individual, por vezes ancorada num cais de comodismo e de aconchego a pequenas e medíocres vitórias."


Li isto, algures, num catálogo de pintura, e ontem à noite andava enrolada como fios em novelos, cogitando sobre a vida. Naquela que temos. Ando cheia de vontade de me forçar a deixar de ser preguiçosa, a investir em mim, no meu valor, seja ele qual for... Enfrentar os projectos adiados e leva-los até ao fim, mesmo que não resultem, pelo menos posso dizer que me empenhei.


E fico-me por aqui, não quero que isto se torne demasiado pessoal, fica o registo para que não esqueça. "Grandes resultados requerem grandes ambições", já dizia Heraclito. Ainda estou em muito bom tempo de ambicionar outros resultados.

terça-feira, março 27, 2007












Exposição de Chiotte Tavares, na sede da SPO, Campo Pequeno, 2-13º andar
Até Maio. Quem quiser aconselho vivamente a visitar, quem quiser comprar que vá rapidinho porque estão quase todos vendidos.
Na primeira fotografia, casal Pêra com A. e V., amigos recentes.
Na segunda fotografia, Helena Pêra com duas das suas melhores amigas A. e H.



quarta-feira, março 21, 2007









ÚLTIMO TESÃO

Alombo contigo há uma porção de anos
e vou-te dizer és um chato
não tens ponta de paciência
para a vida nem para ti próprio

já te ouvi discursos a mandar vir
já te carreguei às costas
bêbedo como um Baco de aldeia
mijando as ceroulas
és um adolescente retardado
faltou-te sempre a quadra do bom senso

vez por outra um livrinho
de versos vez por outra nada
qualquer um do teu tempo
está bastante melhor do que tu
deputado administrador de empresa
ministro da maioria
puta (alguns chegaram a isso)

só tu meu inocente brincas com a neta
açulas o cão pedindo
à família que te ature
o tipo um dia destes morde-te
que é para aprenderes

mas aqui entre amigos
vou-te dizer também
uma coisa importante não cedas
à tentação de mudar
fica nesta pele que é tua

como é que tu escrevias
merdalhem-se uns aos outros

o país mete dó

guarda o último tesão
para mandares
meia dúzia de canalhas à tabua

Lisboa
5/6/9-VII-95





Fernando Assis Pacheco, Respiração Assistida, posfácio de Manuel Gusmão, Assírio & Alvim, Lisboa, 2003

segunda-feira, março 19, 2007



"Torna-te quem tu és",

Friedrich Wilhelm Nietzsche


"Que é o infinito?
Por que te preocupas tanto?
Volta para dentro de ti mesmo!
Mas, se lá dentro de ti mesmo
Não te apraz achar
O infinito do ser e do sentir,
É humanamente impossível
Ajudar-te."


Goethe

(Gnosei Seauton = Conhece-te a ti próprio.)

Hoje acordei assim a roubar palavras a outros para encontrar as palavras que procuro. Dentro de mim? Fora de mim? Procuro o esquecido.O encontrado. Embrulhado em papel, para rasgar, para reciclar, para com novas formas criar outras.

quinta-feira, março 15, 2007



Hoje fica só esta imagem de um projecto vídeo de José Budha, "A eterna confirmação do retorno", e a caixa de comentários aberta mas sujeita à aprovação, como sempre. Ficam perguntas. Precisam-se respostas.

terça-feira, março 13, 2007



Me fiz gente se é que sou * naquela casa de porta azul que o tempo foi tornando menos azul... Lembro-me do esforço supremo, em bicos de pés, para tentar sem resultado tocar à campainha. Depois o esforço desapareceu e bastava esticar um dos braços para alcança-la e como gostava daquele som, familiar, protector, e do grito ouvido longínquo Já vai! e da espera com a impaciência de jovem, sem tempo a perder, com a cabeça cheia de vidas e mundos ainda por conhecer. O avô foi o primeiro a partir, inventei um teste, que teria que estudar muito e não fui ao seu funeral. Fechei a porta e fiquei no seu quarto a despedir-me do seu cheiro, a acariciar a sua roupa, o seu chapéu. Depois a avó, começou a ficar esquecida e confusa. Falava com as personagens das telenovelas. Achava estranho morrerem e renasceram logo de seguida numa outra série de televisão. Vestia-se, penteava as longas cãs, fazia uma longa trança e prendia-a enroladinha na cabeça. Os seus olhos azuis já não brilhavam. Estavam foscos. As mãos pequeninas continuavam agéis. Mas a avó já vivia numa realidade feita de pedaços de um passado rico mas já todo enterrado. A tia levou a avó e fechou a casa azul. A nossa casa. A casa que fazia de nós a família que foramos. A avó morreu. Não fui ao seu funeral. Fiquei sozinha com a dor e um bebé que era para a sua bisavó o seu filho Vasquinho, que morreu bebé. Hoje quando visito a casa choro por todos, pelas crianças que cresceram e correram mundo, pelos adultos que continuam as suas vidas e pelos que partiram e deixaram fechar a casa.

* Me fiz gente se é que sou, Agostinho da silva

sexta-feira, março 09, 2007

Tudo o que demora só pode ser melhor!


A sombra e a luz faz de nós o que somos
Caminhando a dois ou a quatro membros
Não quero falar
Mas apetece dizer-te
Aquilo que sabes
Podes ir e voltar
Cada pedaço de ti faz parte de mim
Não quero
Mas não posso negar
Não vou falar
Dizer o que me dói
Contento-me com pedacinhos
Sou básica
A dois ou a quatro membros
Tento pensar puro
e
os filhos-da-puta
dos sonhos invadem
e
a verdade que nego aparece
secretamente
em signos
e
penso de quem é isto...
Meu?
Nosso?
Não pode!
Tenho a realidade organizada, formatada,
impostos em dia,
frustrações actualizadas,
oprimida e bem fodida...
Então o que é este vazio
que me faz falta
quando se instala o silêncio?
Não falo mais.
Não me importo.
Na primeira ou na segunda pessoa...
Só tu me podes devolver!

quinta-feira, março 08, 2007



Todas as vida têm uma sequência. Esta fotografia é do carnaval. Depois virá a da Páscoa. A seguir as do Verão e, de repente, começam a cair de novo as folhas recém-nascidas, das árvores, e será Outono. Já? Afinal, o natal está próximo! Corridas ao consumismo.

"Faz-se árvore de natal, este ano? É melhor,... coitada da criança... "

Todos fomos crianças e temos memórias quer não se apagam com papéis rasgados e ilusões.

Esta fotografia é do carnaval. A Choninha mascarou-se para os Pêra.

terça-feira, março 06, 2007

Díptico de Choninha, colecção particular, publicado com permissão de S.A.A.




" (...) e representamos muito bem os nossos papéis: apenas bons amigos, um homem e uma mulher. O que seria amar? Não era difícil gostar de pessoas, assim como era fácil não gostar. Querer que alguém fosse feliz, vivesse sem sofrer, seria amar? Ou para amar era necessário desejar, ter tesão, aprofundar o querer bem no querer toda? "
in "Prisioneiro do Círculo", Ricardo Gontijo, Civilização Brasileira, 1981
Ouvindo Domingos António e sentindo-me, finalmente inquietamente-serena, que é o meu estado natural :)
Duvidar é viver, a insatisfação provoca a procura e na procura encontra-se sempre algo, nem que seja o ponto de partida/regresso... Envelhecer não me faz confusão, o que me dói é crescer. Continuo a amar. A desejar. A viver apaixonada... Sem nunca desacreditar na felicidade baseada na virtude e no sermos fiéis a nós-mesmos.

sexta-feira, março 02, 2007

A rua do gato negro.

" Não diga paixão, disse-me Hélia, diga fixação, que é mais cientifíco. "
Vergílio Ferreira


Há um átrio do Metropolitano onde, invariavelmente, vejo um pombo. Daqueles pombos lisboetas, que vivem de miolo de pão e outras migalhas, da água da chuva ou de fontes que ainda vertem. O que torna peculiar aquele pombo é que está sempre na estação do Marquês de Pombal, naqueles seus passinhos incertos de pombo, e sinto a sua falta se não o encontro. Fico com sorriso de tonta, a vê-lo desnorteado mas feliz, parece-me!, e, penso, que, se fosse um pombo tudo seria mais fácil e breve.
Depois há a rua do gato preto.
Adoro gatos, tenho um fascínio por estes felinos. Tive um gato preto, bebé, que a minha amiga Tânia me ofereceu, quando trabalhava numa loja de animais. Ninguém o queria porque era preto, toda a ninhada foi comprada e ele ia ficando. Trouxe-o para casa e baptizei-o: Zappa. Desapareceu há muito tempo da minha vida, não o pus fora de casa, ele é que fez as malas e foi à sua vida. Que os animais têm vida!, e os gatos, embora domesticáveis, têm genes selvagens ancestrais que os tornam independentes.
Na rua do gato preto, as pessoas fogem com medo de cruzamentos, evitam o pobre animal. Quando o vejo faço-lhe o meu assobio "chama gatos" e lá vem, com o rabo erguido, todo feliz, pêlo luzidio, todo gingão. Conversamos, cada qual com a sua linguagem e deixa passar-lhe a mão pelo pêlo, ronrona e depois seguimos cada qual para a sua vida. A minha, de pessoa que chama-ama-e-conversa-com gatos e dele de animal evitado-que-recusa-animais-grandes-de-que-não-gosta...
O que deixará maior marca, a paixão ou a fixação? Ou falamos do mesmo, usando palavras diferentes?