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quinta-feira, dezembro 29, 2005

A Choninha está melhor dentro do seu melhor possível!

Obrigada querida Anatema! A Dharma já não dormiu na almofada comigo, mas aos nossos pés. O Vitor mimou-me, ouviu-me, limpou-me as lágrimas, como sempre, de resto... Um amigo, o P., daqueles de há vinte anos, ligou-me depois de ler o post, deu-me reforços positivos, sabe tão bem ter amigos, verdadeiros e malucos! Aquela chamada telefónica teve uma importância vital!

Obrigada querida Anatema! Volto a escrever aquilo que te disse: tu e a Graziela são importantes na minha vida, tu provás-te ontem, através daquela carta, que existe vida para além deste espaço blogoesférico; podem-se conhecer pessoas boas e há que saber distinguir umas das outras. Eu tive a sorte de vos conhecer!

Hoje é outro dia.

O meu cunhado liga-me todas as noites, para falar de tudo e nada. Eu gosto de ouvi-lo. Gosto muito dele. Sempre foi muito importante na minha vida. Ainda tentou domesticar-me, quando casou com aminha irmã, eu vivia sozinha, a minha mãe também tinha casado de novo. Levava-me de férias, acarinhou-me. Quando a minha sobrinha nasceu foi uma alegria muito grande, que me deixou muito feliz. Quando fui viver com o meu primeiro companheiro fui-me afastando e muitas vezes fiz escolhas erradas. Pude sempre contar com eles. Sei que me amam e sei que eles sabem que os amo; das nossas formas, da nossa maneira...

A tristeza e a nostalgia não foi soprada pelo vento. Está cá dentro. Mas o quentinho que recebi ontem, umas simples (!) palavras, um telefonema, um abraço, o sorriso do meu filho por partilharmos um DVD, os três, juntinhos no sofá com direito a mantinha e chocolate belga...

Obrigada Anatema. Obrigada Graziela.

terça-feira, dezembro 27, 2005

Azevia rima com coisa-da-tia

Nunca gostei do Natal! Gostei mais ou menos quando o Martim era bebé. Comecei a fazer árvore de natal, essas coisas...

A noite da consoada passamos com a minha irmã Mané, o meu cunhado Martim, a minha sobrinha Renata, as avós Cristina e Fáma e a Marilú. E os Pêra; Helena, Martim e Vitor.

Fingi uma alegria que não sentia. Bebi um tinto de Pias com 14 graus. Quis sair de mim, não me apetecia-me sentir ali. Quis esquecer as ausências e estupidamente perdi também o norte, o sul,...

O dia 25 foi dos Pêra. Tudo o dia em casa a abrir, a montar, a por pilhas. Os presentes do Martim. Helena Pêra a cozinhar. A por a nossa mesa. A Dharma atenta à movimentação. Viu-se o Madagascar, obrigada Pauleta!, dormimos uma cestinha, os três, maravilhosamente quentinhos na cama dos "papes".
Acordamos. O filho viu o Hulk. O pai fez um lanche ajantarado. Comemos e brindámos, com os nossos melhores copos de cristal.

Dia seguinte, ontem, o Martim foi trabalhar com o pai. O carro deu o ultimo suspiro e não arredou pé da porta de casa. Meteram-se num táxi e foram a avó Fáma buscar o dela. Agora andamos de cinquecento todo janado, a pintura toda esgatafunhada, mas não foi a avó (!!!!), são sempre os outros que andam na estrada, malucos!

Fiquei o dia sozinha. Deprimida. Sai para tomar um café e comprar um tipo de pilhas que não tinha em casa. Voltei para casa. Fiz as camas. Arrumei a loiça, já seca. Limpei e arrumei a sala. Deprimida.

Liga-me a A., a minha irmã do meio, expliquei-lhe que estava intragrável. Deprimida. "Vens, (ela é tão assertiva!) é o jantar de natal."

A estrada está tão bonita, atapetada de folhas caídas. As árvores grandes começam agora a perder a imunidade. É Inverno. Está uma humidade lixada. Já choveu. O sol rompe e aparece por umas nuvens aqui, ali...

Estou sozinha em casa. Deprimida. Penso no jantar. Eu adoro a A. e o filho A.. O J. veio de roterdão passar três semanas. O J. é o marido da A. ou como ela diz o ex. Durante estas três semanas aproveitam para rebolar na cama e estarem juntos com o filho. Vidas!

Vai ser um final de dia porreiro, com os putos todos felizes. E os amigos de Alex...


Hoje a agonia continua. Deprimida. Mas valeu a pena estar com a A., prometi que recomeço a psicoterapia interrompida.

Ando a ler o Luiz Pacheco e cito: « Ou é tudo uma trampa a fingir de vida.»


A todos que me amam: isto passa, tudo passa, já venci crises maiores, já dobrei o Bojador e vou matar o velho do Restelo... ( Alguém conhece "Os velhos do Restelo", um bar, com uma esplanada fantástica! Há imenso tempo que não vou lá. Parava lá com um bando de betos e malucos. O dono era tão antipático, mas gostavamos dele por isso!)

quinta-feira, dezembro 22, 2005

O Jantar


O Vítor Pêra ontem foi ao jantar da Companhia de Seguros, tenso e stressado, a lutar com os minutos que passavam implacavelmente, ia atrasado, porque o trabalho não lhe permitiu despachar-se mais cedo.

Em conversa com o Martim Pêra, naqueles delírios que saudavelmente partilhamos, (está a viciar-se no “Sentido da Vida” dos Monty Python), lembrou-me a caminho de casa da avó Fama que talvez não pudesse atender-me o telefone porque iria estar em reunião, durante a tarde.

Interessadíssima perguntei-lhe o que é que se passava, concretamente. Estava num dilema terrível. Tinha-lhe sido atribuída uma concessão. Tinha de decidir-se qual iria explorar.

“Mas o quê, trata-se de quê?”. Bem, era simples ou a Vasco da Gama ou a 25 de Abril. “Que achas?”. “Olha que é difícil; a Vasco da Gama tem menos tráfego mas é mais extensa, terás que pensar no problema da manutenção, a 25 de Abril tem mais utentes, portanto, mais veículos, tem o comboio que faz a travessia e menos extensão… Tens de pensar bem, é uma decisão difícil. Fala com os teus administradores; ouve as suas opiniões, não decidas sozinho…”

Como eu, Helena Pêra, sou ultra-reformada-activa-com-o-rabo-a-crescer, não tenho jantares ou almoços de empresa no Natal.

Decidi elaborar um jantar, à luz de uma vela e cimentar, estreitar, ainda mais, a relação com o meu novo sócio (O lobito convidou-me para consultora na empresa, "tudo na negra", por causa da concessão; decidiu-se pela 25 de Abril).

[ Pedro, ainda hesitei com o convite para o jantar, mas ia ser uma nóia, ou então Zappa…]

Assim, fui ao senhor Mário e pedi um “granda” bifaralho de vacosa, bem tenrinho, que o lobito deixou um dente na Serra da Estrela.

Fiz um jantar à “Curral da Mula”, uma tasca de um amigo. Fritei a batata pré-frita, corte tradicional, da Pescanova. Fiz um molho com maionese, ketchup e mostarda que ele gosta. Estrelei dois lindos ovos, sem os rebentar. Grelhei o bife, para nem tudo ser mau.

Pus a mesa para os dois. Copos de cristal (adoramos brindes!). Um tinto alentejano para mim, Pepsi twist para o sócio. Queijo de Niza. E o pão do senhor Jorge, de mistura, que eu sei que ele gosta.

Correu bem. Conversamos calmamente, brindámos à saúde da família.

Foi adormecer na minha cama e vi-me grega para o transportar para a dele: o tipo pesa! Antes das 23h também eu já pairava numa nuvem qualquer a caminho de um qualquer sonho…

quarta-feira, dezembro 21, 2005

segunda-feira, dezembro 19, 2005

ATACADISTA DE BANANAS EM GERAL

Tenho um primo, com o qual não tenho contacto, da parte dos Rodrigues, dos judeus, que emigrou da pequena aldeia onde nasceu e foi para São Paulo, em busca de uma vida diferente da que o esperava.

O Aleu esteve cá há cerca de cinco anos. Trouxe o meu tio Delfim, irmão da minha mãe, que ela não via há uns trinta anos, para passar uma semana em sua casa, em Lisboa.

Aproveitou também ele para rever a tia.

Falou, falou, falou… Cheio de ouro. Falava um português cheio de sotaque e regionalismos. Respirava sucesso. No fim, orgulhoso, deu-me o seu cartão de visita. Hilariante! Muito espalhafatoso! O seu nome, morada e telefones. Um desenho de um cacho de bananas, bem colorido a amarelo e em grande destaque: Atacadista de Bananas em Geral!

Estava com tanta vontade de rir sem parar que sabia que não poderia começar. Sorri e perguntei que raio de coisa era aquela. O primo explicou, que tinha uma empresa de armazenamento e distribuição de todo o tipo de banana (existem imensas subespécies deste fruto!).



Este sábado lembrei-me deste episódio. Acho que é um título excelente para por num anúncio, num jornal diário de grande tiragem, nas páginas de Convívio.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Georgia

A Georgia é uma doida amansada pelos caminhos que teve de percorrer. Vários. Sinuosos alguns.

A Georgia apareceu na nossa vida, vinda de muitas vidas, cheia de um vazio triste a preencher. Os seus olhos quase pretos falavam mais que as suas palavras e frases sem sentido.

A Georgia recebeu o nosso colo, onde chorou, onde enxugou as lágrimas finais e aqueceu nesse colo quente as asas molhadas, que assim estavam prontas para novos voos.

A Georgia é só um tipo de letra, mas puderia ser uma mulher, com personalidade, com um qualquer tamanho...
A ficção é o que há de mais próximo da realidade!

quarta-feira, dezembro 14, 2005

O meu coração saliente bate mas também sente.

Chico Buarque, 1985
«Ópera do malandro»



Sentimental, sentimental
Um coração saliente
Bate e bate muito mais que sente
Fica doente
Mas é natural, natural
Que num cochilo de agosto
Surja um outro alguém do sexo oposto
Do sexo oposto, outro alguém

Ontem vi tudo acabado
Meu céu desastrado
Medo, solidão, ciúme
Hoje eu contei as estrelas
E a vida parece um filme

Gemini, gemini, geminiano
Este ano vai ser o seu ano
Ou senão, o destino não quis
Ah, eu hei de ser
Terei de ser
Serei feliz
Serei feliz, feliz

Façam muitas manhãs
Que se o mundo acabar
Eu ainda não fui feliz
Atrapalhem os pés
Dos exércitos, dos pelotões
Eu não fui feliz
Desmantelem no cais
Os navios de guerra
Eu ainda não fui feliz
Paralisem no céu
Todos os aviões
É urgente, eu não fui feliz
Tenho dezesseis anos
Sou morena clara
Atraente
E sentimental
Sentimental, sentimental





Adorei este filme de Ruy Guerra e esta era a minha canção preferida. Ainda pára lá por casa o VHS do filme, gravado na RTP2 e o LP, com a banda sonora do filme. Eu tinha dezasseis anos, era morena clara, atraente, sabia que ia ser feliz (todos os jovens sonham a felicidade), ou então paralisaria o mundo, a rotação planetária, porque sabia que era um direito que eu tinha.
Sou feliz. Passaram vinte anos. Só não deixei de ser sentimental; isto com a idade até deve ter agravado! Não choro é tanto; era mais chorona, era o emaranhado das hormonas...
Ontem chorei, chorei, chorei...
Hoje sinto-me lavadinha por dentro e fora, pronta para este dia, pronta para todos os dias, os dias que me fazem sentir feliz: ou é uma folha que caiu no meu Largo e apanho com carinho e guardo nos meus cadernos; ou é o doido do Martim Pêra a levantar-se às sete da manhã, com os calções de escoteiro vestidos por cima do pijama: diz que foi represália por ter-lhe sido negado um copo de água antes de dormir; ou é o Vitor Pêra a ligar-me pela manhã, docinho e preocupado: Chóninha...

O meu coração saliente bate mas também sente.

terça-feira, dezembro 13, 2005

"Folhas de erva"




« Já disse que a alma não é mais do que o corpo,
E já disse que o corpo não é mais do que a alma,
E, para cada um, nada, nem Deus, é maior que si próprio,
E quem caminha duzentos metros sem amar caminha para o seu próprio funeral,
envolto na sua mortalha,
E eu ou tu, que não temos tostão, podemos comprar o melhor que há na terra,
E olhar de relance ou mostrar um feijão na sua vagem obscurece o saber de todos
os tempos,
E não há ofício nem trabalho em que um jovem não possa tornar-se herói,
E não há objecto tão frágil que não possa servir de eixo às rodas do Universo,
E digo a cada homem ou mulher: Que a tua alma permaneça serena e plácida perante
um milhão de universos.»

Walt Whitman

A carta

Detesto cartas. Escrever cartas. Também não gosto especialmente de as receber.
Mas há uma carta que gostaria de ter escrito. Uma carta para a minha irmã. Uma carta que nunca escrevi, que apenas escrevi mil trezentas e setenta e duas vezes na minha cabeça.

Mas às vezes só mesmo uma carta para dizer o que se tem de dizer. Uma carta tem de ser lida. Deve ser lida. Tem remetente. Tem destinatário. A carta é um veículo para a mensagem. O canal que liga ou desliga.

Não gosto de cartas.

Vou passar a mensagem neste poste, espero que leias, ó parola:

Mana, não gosto de ti assim, sem jeitos de ti, a fugir e a negar. Su Mana Mané, quero-te de volta. Sempre foste a minha mãe. Foste forçada a sê-lo pelo peso da diferença das nossas idades e pelas ausências da mãe. Eras sempre tu. Também tinhas de tomar conta da mãe, porque ela só te tinha a ti. Não teve mãe, o avô Bernardo era um sacana, que a fez fugir para a cidade, quase criança, ficou viúva muito cedo e teve que estudar e trabalhar para nós. Ainda tiveste durante algum tempo o pai, eu não me lembro dele. Mas deve ter sido muito complicado perder um pai no inicio da adolescência...
Não posso deixar de dizer-te o quanto és importante na minha vida. E tu sabes como a mudei com a tua ajuda. A vontade foi minha, o empurrão foi teu. Olha o teu sobrinho. Já tem sete anos! O tempo passa tão rápido. Quando somos crianças o nosso tempo é diferente. Agora somos as duas adultas, mulheres, mães, amantes. A vida é um presente por abrir. Está um sol magnifico, outonal, está um frio fodido: agasalha-te bem! Adoro-te. Muito.

Apetece-me chorar, foda-se! Estou com SPM e toda lixada da vida...

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Uns dias de descanso...

Estive com a familía, os amigos.
Passámos o feriado com a H. e a Sara. Jantamos em sua casa, os Pêra e os Pêssego. Fiz uma mousse de manga e pedi a H. para convidar o P. para a sobremesa. Acabamos por jantar todos e depois fomos com o P. ao bar que ele explora, era cedinho, a Sara e o Martim adoraram. Matrecos! Internet! Instrumentos! Palco!
Foi muito agradável estar com eles. Os meus amigos de adolescência.

No sábado liga a A. bem cedo. A chorar!
Veio almoçar connosco e fomos ao parque com os putos. A A. estava intragável, na sua própria descrição. Lá lhe dei o afecto que precisava, reforços positivos a rodos e as minhas bocas (a minha imagem!) que além de originais e cheias de piada (que modesta, não estou?)animam a A.. É isso e uma bela duma foda, mas ela anda em abstinência sexual, porque o mercado está difícil, porque passa a vida com gajas divorciadas, a caminho disso ou com casamentos falhados e não resolvidos. Eu devo ser a pessoa mais normal, dentro da minha sub-normalidade, com a vida familiar mais equilibrada, que ela conhcece. E os Pêra estão lá também para abraçar, para afagar os amigos feridos. Não é só festa! Senão seria uma vida incompleta...

P.S. Em espírito estive em casa do FazTudo.blogspot.com e da companheira, que voltaram a juntar uns bloguistas doidos, naquela casa tranquila, para uma jantarada e conversa amena. Obrigada, tios, pelo convite amabilíssimo, mas não se pode ir a todas!

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Onde é que eu estava há vinte e cinco anos?

Ontem vi o documentário "ateatrado" que a retepê, como diz o Martim, passou sobre o Sá Carneiro.

Lembro-me perfeitamente da sua morte. Tinha feito 12 anos no dia anterior. Andava a estudar no ciclo preparatório. Não tive aulas. A rádio e a tv só passavam musica clássica. Fui passar o dia, na Colina do Sol (onde hoje vivo!), em casa da minha amiga Fazila. Era a minha melhor amiga à epóca. Era a melhor aluna da turma. Eu era a segunda, porque não estudava e usava apenas a memória e a imaginação. A Fazila estudava que se desunhava. Tinha de ter 5 a tudo.

Em casa da minha amiga (como adoraria revê-la!) vivia uma familia enorme, onde dominava a avó, a matriarca. Falava-se inglês, hindu e os filhos (eram quatro) ajudavam os pais no português.

Aqueles cheiros, aquela casa, que eu adorava. A avó cozinhava aquelas comidas indianas fantásticas, super-condimentadas e picantes. Lembro-me perfeitamente de nesse dia sair de lá cor-de-rosa choque, depois de comer com eles.


Mas voltando ao Sá Carneiro, hoje compreendo o que perdemos. E compreendo que talvez naquela noite tenhamos perdido um rumo, um sentido a dar à jovem democracia.
O Senhor Doutor Mário Soares, aquele que não quis ser candidato mas foi obrigado (coitadinho, já não pensa por ele!), pode ter editado muitos livros, ter viajado milhares de km's, ser conhecido em toda a Europa (e Macau!), mas foi o percursor do buraco onde estamos. Um buraco onde todos rapam rapam rapam, até romper o fundo. E o fundo mais fundo se calhar até já rompeu mas tira-se aos pobres para forrar o fundo para que estes senhores doutores, rapem rapem rapem.

Não é amargura: é pensar em como puderiamos estar de outra forma, talvez pior, diferente, pelo menos... Se fosse mais nova emigrava, cansa-me ver sempre as mesmas caras, sem ideias, sem qualidade; estes licenciados, filhos de porteiras, que governam o MEU país...

O Vitor Pêra ainda se lembra do que lhe disse quando o Durão anunciou a tanga: América latina, babe, américa latina... Quando o tipo fugiu de tanga, lá para a Comissão, diz Vitor: "Chóninha, tinhas razão,..."

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Ainda o natal (prometo solenemente não voltar ao tema)!

Cada pessoa tem duas mãos. Tem dez dedos nas duas mãos, essa pessoa. Duas pessoas têm quatro mãos. Tem vinte dedos nas quatro mãos, essas duas pessoas. Três pessoas têm seis mãos. Tem trinta dedos nas seis mãos, essas três pessoas.

...

...

Abomino o natal pela força imensa que desperdiçamos, na energia perdida em hipocrisia, pela quantidade de lixo que se gera e abandona, ... , sei lá porquê! Freud explica!

E...

... ensaiei o desapego sem o conseguir

... virei a esquina

... tu vieste original; manso e terno

... olhei de novo esses teus olhos

E os meus

E a madrugada nasceu numa outra esquina

E essa noite madrugou cedo nos teus braços
E não os vi ao acordar.

Estive a fazer a árvore de natal, porra...

(Post de 29/11/2005)

A alegria de um céu com luz, outonal. Apetece espetar as ventas, sempre cabisbaixas, aos raios, sentindo paz.
Brevemente.
Chamam por ti.
Chamam sempre por ti.
Terás cara de quem pede que chamem sempre por ti?
Este sol sabe bem quando aparece.
É bem-vindo.
Aquece o sol que vive dentro de nós; tipo “O meu pé de laranja lima”: «vamos aquecer o sol?»

... esquecer a fome, a falta de trabalho, o rebanho de filhos sem ter que calçar, a doença, a tristeza, os brinquedos que todas as crianças deveriam ter...

Seja, deixamos aquecer o nosso sol, afastamos a tristeza, aproximamos os amigos...
- Vamos aquecer o sol?


Confesso; gosto muito é de passagens de ano, o natal engole-se, com o bacalhau e as couves...

Será que o sol ainda quer alguma coisa connosco?

quarta-feira, novembro 30, 2005

Matilde

Matilde anota, na triste quietude da sua vida, com carinho, os dias em que faz amor com Luís na ilusão de saber o dia exacto em que irá conceber. Escolhe nomes por sob o silêncio de Luís. Descobriu pasmada o gosto deste por nomes começados pela letra erre.

Somos estranhos para os outros não mais que para nós mesmos. Somos um eco remoto do que sentimos.

O pai do Luís vive o fim de um negócio que não correu bem. O filho tenta desenfreadamente ajudá-lo, sem alvitrar, sempre preocupado com a dívida jamais paga. Como dizer ao pai sem falar no passado que é o homem que é graças a ele. A dedicação exaustiva salvou-o.

Matilde tem dificuldade em digerir os silêncios do marido. Quando vê entrar o Fernando lê-lhe nos olhos o desespero e sabe que mais uma vez Luís ajudará o pai a um prolongamento forçado de um negócio moribundo.

O tempo passa e Matilde continua a tomar notas no velho bloco, com capa encarnada. Todos os finais do mês a mesma coisa. “Luís, não foi ainda este mês”. Luís suspira calado. Não aguenta a sua ansiedade. Matilde trocou o anti-depressivo e a psiquiatra por uma tentativa de engravidar.

Tem ambos 34 anos, é a altura mais que certa. Quer a sua família. Matilde nunca conheceu o pai. A mãe vive em Torino, Itália, e a relação entre as duas estabilizou, falam pelo telefone, mas não se vem há quatro anos. Só tem Luís e os sogros, que tão bem a acolheram neste país estranho.

Sentiu-se agoniada, tonta, com quebras de tensão. Já não podia ser apenas do medicamento. Tinha feito o desmame como a psiquiatra lhe dissera.

Passou pela farmácia a caminho de casa. Voltou atrás e entrou, um pouco envergonhada, com medo que o empregado, que a conhecia pela assiduidade, lhe pergunta-se directo se queria um teste de gravidez. Começou por pedir uma embalagem de aspirina, pediu um conselho para um xarope para a tosse e depois como se quase se esquecesse o teste.

Saiu da farmácia com o saco dos medicamentos na mão, dedos bem firmes a segurar. Percorreu os poucos passos que a separavam da sua habitação e a distância pareceu-lhe desmedida. Subiu os três andares quase em corrida e entrou em casa. Pendurou o casaco e a mala à entrada no bengaleiro e dirigiu-se de imediatamente à casa de banho, sem largar o saco de plástico.

Fez o teste. Dominou-se e deixou-o poisado no lavatório. Foi mudar de roupa. Parecia um contra-senso mas agora estava calma. Seria como fosse.


Matilde está no quinto mês de gestação e acabou de fazer uma ecografia. Agora sabem que esperam uma menina. Uma Vitória para tornar diferentes os seus dias. O Luís calou o desencanto e mostrou-se feliz. E estava muito, mas talvez ficasse mais ainda se fosse o tão desejado menino, para lhe fazer companhia nas idas ao estádio do Glorioso.

O amigo que desistiu...

(Já passaram três anos e ainda dói lembrar aquele telefonema; ainda custa não saber-te aqui connosco a partilhar a vida...)


Carlos tinha tudo preparado. Planeara incomensuravelmente cada movimento, desejando que fosse o último. Como seria. Pela manhã o seu corpo foi encontrado pela irmã, que à Segunda-feira depois de deixar a filha na escola, lhe levava a roupa da lavandaria. Só tinha aquele irmão. Os pais tinham perecido há muito e habituaram-se a contar apenas um com o outro desde cedo. Depois a irmã casara, Carlos ficara com a casa dos pais, que arranjou do seu modo, para partilhar um dia com a sua família. Nunca a teve. Daí o amor desmedido que sentia pela Inês, sua única sobrinha.
A última tarde passara-a na igreja, nos ensaios do coro a que pertencia desde algum tempo, para colmatar as falhas dos amigos e preencher um pouco a sua solidão. Tinha o anseio secreto e calado de talvez encontrar aí alguma rapariga da sua idade, talvez mais nova, em idade fértil, alguém para partilhar a doçura imensa que escondia por trás das lentes dos óculos. Carlos era um homem de afectos, de carinhos, de palavra amiga. Era o mais fiel de todos e aquele que calava as decepções com um "deixa lá" sem ressentimentos...


Acabei de receber um telefonema do Salvador: o Carlos enforcou-se! Nunca lhe disse que gostava muito dele, que era uma pessoa importante para nós. O que ficou para dizer jamais poderá ser dito. Foi seguramente a solidão, a angústia do desamparo!

(Tinha 42 anos, talvez menos, talvez mais, que importa... Importa que perdemos um amigo... E precisou de alguém e não nos disse nada, não confiou em nós para partilhar a sua aflição, o desespero, preferiu o isolamento e o desapego.)

Desistiu. Deixou-nos ficar cheios de pensamentos amargos de como poderia ter sido diferente...

terça-feira, novembro 29, 2005

Não se deve cravar a ferradura na flor...

O enfermeiro Capitolino tem uma fixação por mamas. Não há seio, mais cheio ou menos cheio, que não chame o enfermeiro Capitolino como quem chama por alguém. Não é chuva nem é vento. São resquícios do ser que em tempos foi Capitolino. Agora, é uma coisa assexuada, com cheiro de placenta, que não se despegou nunca do ser, daquilo que Capitolino é.
É assim como o destino; fatal: onde há protuberância mamária, lá estão os olhos do enfermeiro cravados. E não se trata de cravo ao peito (que mal me saiu este trocadilho!), são flores, senhoras e senhores, são flores que Capitolino transforma em pão…

Tentativa de moralizar a estória:
Quem vê mamas não mama mamilos.

Outra tentativa:
Quanto menos seio menos seio que nada seio.

sexta-feira, novembro 25, 2005

O lápis e os barões assinalados

O lápis que afiei, no multifuncional afia,
Que dá carvão aos lápis escolares do filho,
Ultrapassando obstáculos e bicos partidos,
Que da ocidental madeira utilizada,
Por freios nunca antes arredondados,
Afiados escreveremos outro Velho do Restelo,
Mais novo e operacional,
Crente na velha esperança lusitana,
Divulgando nossas vitórias para além de nossas fronteiras.


As personagens
O lápis existe mesmo e o afia também. O lápis é amarelo com o logotipo da nossa assembleia da república, tem uma borracha na ponta para apagar os enganos cometidos, eu uso-a para morder; tenho o vicio de trincar o "rabo" aos lápis!
O afia é verdadeiramente multifuncional, ou seja; serve para afiar finos e grossos, lápis. É azul e alberga as raspas dentro duma espécie de caixa, que se lhe atrela ao corpo.


O resto é fado, tudo isto é fado.

Não se pode querer meter o Rossio na Rua da Betesga

O livro que queremos escrever só existe nas nossas cabeças.
O pensamento é mais veloz que a escrita.
A escrita é um esforço, às vezes conseguido, do que foi cogitado. Não tão fiel. Como uma cor que fica esbatida na folha de papel. É a mesma cor mas não é a cor. O papel, a página é o filtro. As palavras ficam aprisionadas. Estáticas. Dar-lhes forma. Dar-lhes vida própria. Criar o texto. Fazê-lo ter corpo. Sentido às frases. Objectividade.

quarta-feira, novembro 23, 2005

Depois de conhecer o Cunningham e rever na 2 o Michel Palin, pelos Himalaias

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A grande roda continua a girar. E repete implacavelmente sempre o mesmo rodar. Não pára. O homem é sempre igual. Repete-se. Nasce, mama, cresce, ama, odeia, tem medo, é feliz, é menos feliz. Nada é permanente. A vida que vivemos é aquela que queremos. A vida não é complicada. O homem complica porque não aceita a impermanência e não suporta a dor. Como seria viver sem dor? Não consigo imaginar! A felicidade, os momentos bons, deixaria de ter significado; perderia o sabor doce que equilibra o sabor amargo…

Esta noite regressei feliz e excitada a casa. A minha família recebeu-me com beijos. O Martim Pêra gritou “mames” correu abraçou-me, beijou-me beijou-me beijou-me e tive de suplicar tréguas, pois corria sérios riscos de me afogar naquele amor. A Dharma deu-me turrinhas, miou miou miou e não descolou, sempre atrás de mim.
Sou feliz porque, apesar de não me deixar de interrogar e indignar, sinto-me plena com estas pequenas coisas.

Como diz o escritaepinturas: «vocês são tão “póbrinhos” mas tão felizes!».
Há riquezas que não tem preço! Não se aplicam em contas bancárias. Estão dentro de nós. E não há instituição bancária qualquer que pague melhores dividendos que o amor que a minha família me dá.

P.S. O Cunningham ficou impressionado, na hora dos autógrafos, quando lhe escarrapachei os livros todos para assinar: “Oh, you have all my books!”…

«Pouco importa o tempo ou o lugar (...). Eu estou convosco e sei como é a vida.» Walt Whitman

terça-feira, novembro 22, 2005

(A) Mar

Espero alguém. Quero navegar, não tenho medo das ondas. Alguém vem ao meu encontro, quem espero.
Às vezes quero mais do que posso encontrar. E sempre que encontro fujo. Tenho medo das emoções. Não tenho medo das ondas. Gosto de navegar. Da espera. Do reencontro. Gosto de ti. Nunca precisamos falar em amor. Gosto deste gosto que nos basta. Sou feliz quando dou pouco. Quando me finjo vulgar. Desejável. A mulher tem um poder especial que como por magia transforma o homem em alguém. Espero-te. Tu és especial. O marinheiro que me fez perder o medo das ondas. Quem encontro e quem me espera. Quem eu espero e me encontra. Sabes a mar, ao teu mar...

segunda-feira, novembro 21, 2005

"Dias Exemplares" de Michael Cunningham

Tem sido uma segunda-feira em que mal tempo tenho de dar uma puxinha no cigarro. Ainda só visitei a fugir a Graziela e o Cagafogo.

A Graziela que adoro, uma querida amiga. O Cagafogo, que se ausenta assiduamente da blogoesfera, para desenvolver outros projectos, sim que a vida de um gajo não é só isto! Um beijo enorme para ambos, que sabem bem o quanto sou fã...

Esta postinha serve só para informar os fanáticos, como eu!, que amanhã no El Corte Inglês será o lançamento do último romance de Cunningham, com presença do mesmo (Hello, Mr.Cunningham, how do you do?).

Obrigada ao Sr. Guilherme Valente, da Gradiva, pelo bom gosto da sua editora e pelo convite.

Lá estarei!

sexta-feira, novembro 18, 2005

A caminho do fim da semana

Os super Pêra acordam sempre bem dispostos. A excepção são aqueles sábados ou domingos em que apetece ficar mais um niquinho no quentinho e Martim Pêra irrompe pelo quarto conjugal, atira-se sem cerimónia para a cama, com aquelas lambuzelas que ele chama beijos e gritos (sim,gritos!) de "Bom Dia".

Uns destes dias combinou comigo levar-nos o pequeno-almoço à cama. Deixei-lhe tudo encaminhado de véspera. Apareceu com um tabuleiro, aqueles olhos a brilhar, sorriso enorme, pulmões em pleno, e um pacote de litro de leite, umas fatias de pão de Mafra, um pacote de manteiga e uma pequena faca. E tomem lá que tenho mais que fazer; já a televisão aquece na sala, cheia de animação para ver. Foi um belo esforço! Ficou o casal Pêra de bandeja, estremunhados, sem saber que fazer com tão esmerado repasto!

Hoje bem cedo saimos todos de casa. O Vitor Pêra sai sempre na frente "para aquecer a carcaça com motor". Tive que ir à escola porque não sabia se a professora do Martim faria greve e caso afirmativo teria de arranjar outra solução; ATL, Avó, qualquer coisa...

Ao fazermos a rotunda, logo à saída de casa, começamos logo a cantar "nas palhas deitado,...", numa alusão à palhota e respectivas figuras de José, Maria e Jesus que já lá estão abancadas, numa alusão natalícia que abomino.

Escusado será dizer que esta versão da canção de natal é completamente adulterada, com cada membro a contribuir, a ver de quem sai o pior disparate.

As gargalhadas subiram de tom com a minha versão do adeste fidelis, o Martim Pêra fica logo cheio de soluços, é uma característica genética: quando se ri demais tem um ataque.

Amanhã temos peregrinação à loja da AEP, para comprar o fardamento do lobito Pêra.

Sugestão de fim-de-semana, para quem tem filhos e não só, passem no cinema Quarteto amanhã às 19h, "Belleville Rendez-Vous", um belíssimo filme de animação que conta a história do pequeno e melancólico Champion educado pela avó, Madame Souza, para vir a ser um grande ciclista. É o filme preferido do Martim!

Bom fim-de-semana!

quinta-feira, novembro 17, 2005

A adivinha favorita de Martim Pêra

Estando a dona Branca
Muito repimpada,
Veio o senhor Barbaças
Deu-lhe uma bofetada.


Resposta:
O pincel na folha de papel

quarta-feira, novembro 16, 2005

Blogspot.com

O Faztudo e a companheira são uns anfitriões fantásticos. Proporcionaram à ontemhoje, ao planetaverde, ao omanual, à porumfio e ao escritaepinturas, umas horas que voaram de agradáveis. A Piano/Erato, também por lá passou. Muito bonita!

Claro que houve coisas caladas, a dizer...

Claro que existem outras (muitas) descobertas a fazer...

Ontem à noite, naquela casa acolhedora onde se respira harmonia, mostrou-se a vontade de melhor conhecer aqueles que estão enredados, aqueles que gostamos de ler e acabamos por amar, como se fossem da família.

Ontem deitei-me feliz, com o meu Pêra, a saborear ainda aquele momento.Vou guardá-lo no meu coração.


Falou-se na Concha. Faltou a Concha!

terça-feira, novembro 15, 2005

Não há solidão mais triste do que a do homem sem amizades. A falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto

Só me apetece escrever paspalhices parvas, sem sentido, ocas e bazaroucas! Tenho um post para escrever sobre a minha sexta-feira, cheia de memórias do passado com os protagonistas bem afincados no presente! Mas fica para outro dia! Tive um choque emocional de que mais tarde falarei.


Hoje à noite vou conhecer uma pessoa que se tornou importante para mim através desta rede e em especial através da blogoesfera. Estou assim, com picos de ansiedade e cheia de vontade que anoiteça.


Devo ter chegado ao seu blogue através de um link qualquer de qualquer outro blogue. Passeei pelos arquivos e descobri uma mulher fantástica, cheia de coisas interessantes para contar. A empatia que senti pela autora foi reciproca.


Esta semana ela saiu do seu paraíso e veio à capital. Querida, tão querida, não quer deixar de conhecer os novos amigos.



O FazTudo disponibilizou o ninho para o encontro fora das malhas da rede.


Hoje vou conhecer a amiga Graziela, do ontemhoje e estou muito feliz.


(O título é uma citação de Francis Bacon, via Citador)

sexta-feira, novembro 11, 2005

"...mas por favor não comas os meus lápis de cor..."

(Título roubado a "Florbela Espanca-me";Ena Pá 2000;"Doces Penetrações")


Querido, meu querido, desculpa, desculpa, sabes como é, não me apetece que desculpes o que não se desculpa, mas, cansei-me, sim querido, meu querido, às vezes também me canso, farto-me de andar e pergunto: porque andas porque corres porque te cansas, mas sabes como é, querido, meu querido, peço-te desculpa, eu sei, poderia ser diferente, mas é mesmo de mim, é meu!, sou mesmo assim, desculpa querido, meu querido, não, não me apetece ir dormir, estou com sono, sim, estou cansada, sim, deste cansaço, sim, mas sem corpo para cama. Boa noite querido, dorme bem meu querido.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Que preguiça! Estou com uma lazeira tão grande, obscura. Será a esgrouviada da astenia outonal que me atacou? Terei escorregado na “Espuma dos Dias”?

Ontem por motivos técnicos, vulgo avaria do elevador, tive de galgar uma porrada de escadas, pisos, aí, nem quero lembrar… Que canseira! Dói-me tudo, até me custa ter os olhos abertos!

Abre os olhos. Vai tomar banho! Mexe-te! Depois lambuza-te de creme hidratante. Veste-te! Verifica o que vai. Verifica o que fica. O livro. “Um céu demasiado azul”, Francisco José Viegas.

Pode ser do livro?


" Na verdade, Filipe sabia, as pessoas acabavam por viver com alguém a seu lado, na maior parte das vezes para não enfrentarem a solidão ou terem de sofrer a humilhação de morrerem em silêncio. Primeiro, apaixonavam-se, e Filipe Castanheira sabia que não podia deixar de ser assim. A seguir, o prazer de repetir os primeiros gestos, as primeiras palavras de sedução. E o desejo de repetir tudo como se fosse a primeira vez, embora a primeira vez fosse sempre uma data distante que não se recorda senão para evocar o prazer perdido, geralmente o amor efectivamente perdido. Cedo sobrevêm as dúvidas, os compromissos, as vigilâncias, as palavras que perdem o primeiro dos significados. Amo-te. Como se deixa de amar alguém? Como deixamos de amar alguém? Deve haver um aviso, um sinal que fica a marcar tenuamente uma página de um livro, uma parede de casa, uma data às vezes, o céu de uma manhã de Inverno. Deve ser no Inverno que por vezes deixamos de amar seja o que for, porque o Inverno é o tempo da casa partilhada e uma casa só muito dificilmente se partilha. Uma casa é o último reduto do animal em perigo, um refúgio contra as tempestades – e as tempestades são todos os que vivem à nossa volta."


Porra! O FJV escreve estupendamente bem. Obrigada A. por me teres emprestado este céu. Raspa lá bem esse insight e vê lá se não parece a puta da vida… É que é tal qual! Lembras a nossa conversa no domingo passado? Que tendência crónica a tua: complicar para me dares trabalho a descomplicar…

Kalifornication

Ele babou-se nela, deixou-se o silicone ensopado, e ela, feliz e servil, apressou-se a dizer-lhe: - Deixa estar que eu limpo!

terça-feira, novembro 08, 2005

"Menina Azul", Ena Pá 2000

Senhor Doutor dê-me comprimidos para dormir desde que a vi que não consigo mais dormir

Menina Azul

‘Tou tão deprimido sem saber que fazer pobre e mal vestido a barba por fazer
e penso em ti a toda a hora penso em ti pela noite fora

Menina Azul

E agora sim agora somos como dois caminhos paralelos que se devem separar que se cruzam no infinito eu para o meu lado você para o seu lado cada um para o seu lado neste caos o infinito que é o universo

E tu amor e cores e flores de todas as cores passear contigo pelo jardim amar é tão bom

E a mão pela mão e o pé pelo pé, eh eh eh eh, não é pois é oh se é

Menina Azul






Isto passa tudo passa mas enquanto passa e não passa passam-me outras passagens pelo que me passa.

segunda-feira, novembro 07, 2005

"Menina Azul", Ena Pá 2000

Estava aqui a pensar no disco dos Ena Pá, Doces Penetrações, a ver se animava o dia. Este peso de segunda-feira! Depois a semana flui mais tranquila ou não, mas a maluca da segunda-feira pastilha, pastilha e não desenvolve. Não vejo a hora de estar com quem amo e abraça-los, roubar-lhes beijos e mudar de cor. Sim, hoje a menina azul veio visitar-me e roçou a cor deixando-me marcada...

quarta-feira, novembro 02, 2005

Impostos

- Fui claro?

Apeteceu-me dizer-lhe aquilo que sentia, o asco daquela acne juvenil resistente, os quão tristes deviam ser os seus dias naquela repartição sem sol, iluminada artificialmente. Engoli apressadamente o pensamento galopante e focalizei-me:

- Muitíssimo. Agradeço-lhe a sua atenção…

- Fico feliz por ter sido útil.

(A felicidade que eu proporciono aos funcionários públicos!)

segunda-feira, outubro 31, 2005

O Mãozinhas

O meu vizinho de baixo é obsessivo. Como fumo sempre à janela aprecio-o cá de cima. O ritual de estacionar o carro, sempre no mesmo lugar, abrir e fechar as várias portas, para simples verificação geral.

Vazar a sacaria do porta bagagens. O meu vizinho de baixo é médico. Vem sempre carregado de ofertas e divirto-me a imaginar o que os pacientes e os laboratórios lhe oferecem.

O Mãozinhas, como o alcunhei e ficou, candidamente, à cerca de trezentos anos atrás, comprou duas fracções e tentou exercer clínica numa delas. Foi vetado numa qualquer assembleia de condóminos.

Não o conheci nessa altura mas correlaciono sempre essa história com os seus lamurios, os pagamentos, porque o Mãozinhas acabou por ficar com as putas das duas fracções num bairro triste, onde já ninguém vive, a não ser de passagem...

As coisas que já vi o Mãozinhas fazer lá em baixo cá de cima!

Já o vi, depois dos rituais habituais, sacar de uma garrafita de 0,33 de água e com a ajuda de lenços lavar o carro (Este homem ignora as figuras que proporciona aos vizinhos fumadores!) e isto muito antes da seca!

A última, ri tanto nesse dia, o tipo tornou-se refinado e usa agora um toalhete, unzinho, e lava o carro, assim, obsessivamente, às vezes até olho para o relógio da cozinha, para calcular, porque é impressionante o tempo útil que os obsessivos desperdiçam...





P.S. O Mãozinhas tem um tique: morder os lábios, superior e inferior, o que me leva a imaginá-lo em outros actos. Mas isto é a minha parte porca a falar...




Um destes dias conto-vos a estória do Matos Manhoso... O meu bairro é um manancial para colecções, de cromos...

sexta-feira, outubro 28, 2005

Mercedes e Clarisse

Pouco depois de Mercedes nascer houve um sismo na zona norte de Lisboa. O bebé foi embrulhado num lençol e trazido para a rua pela irmã Clarisse, de pouco mais de nove anos de idade.
Mercedes soube pela mãe o que aconteceu naquela noite, alguns anos mais tarde. Um dia perguntou-lhe “porque é que a mana não gosta de mim como das outras crianças?”, a casa sempre cheia de crianças que ela tratava como se fossem suas, a mãe paciente contou-lhe a afeição, a ternura e doçura com que Clarisse sempre a tratou, de como cuidou dela na convalescença da sua cesariana, dizia “deixa mãe, deixa-te estar, eu trato da mana...

Mercedes quase não acreditava que Clarisse a amara e pudera alguma vez demonstrar esse amor. Só lembrava o silêncio da irmã e a quase idolatria que sentia por ela. Recordava o seu amor pelas palavras e como ela sempre lhe explicava o seu significado. Ficava fascinada com o seu saber enciclopédico. De como vestia às escondidas as suas roupas que Clarisse proibira determinantemente. Como gostava da música que ela ouvia, principalmente Sérgio Godinho.


Depois a vida cuidou de as afastar mais ainda. Chegaram à idade adulta sem se conhecerem, nem manifestamente querendo. Cheias de medo de olhar nos olhos uma da outra e ver o mesmo: o amor que sentem, o silêncio do que não se diz...

Uma vez Mercedes arrastou a irmã e a mãe para uma sessão de terapia familiar. Vomitou durante uma hora palavras caladas, esquecidas, cheias de teias de aranha. Estava a entrar nos trinta e a vida de pernas para o ar. Tinha acabado de engravidar. Não tornaram. A mãe e irmã choraram, debateram-se e recusaram-se a voltar.

Quando o filho de Mercedes nasceu, não teve ajuda de ninguém, excepto do marido. Os dois primaros tiveram que se desembaraçar sozinhos com aquele recém-nascido minúsculo, que nem três quilos pesava.

O afastamento foi inevitável, deixaram de ser a família que nunca foram, mas que Mercedes sempre aspirou, para se reunirem apenas no Natal, comer o bacalhau e trocar presentes.

Mercedes faz quarenta anos nesse dia. O filho com dez anos está na escola, frequenta o quarto ano do ensino básico. Clarisse fará cinquenta daqui a dois dias e a mãe convidou toda a família para uma feijoada. Mercedes aceita, muito satisfeita. Irá conhecer o novo namorado da sobrinha Caetana, que se divorciou há dois anos. Ainda não tem trinta anos e já vive o terceiro divórcio, diz que continua a acreditar no amor e no casamento.



Há muito tempo que não se juntam. Falam esporadicamente ao telefone e já nem o Natal os reúne. Por nenhuma razão especial, nenhuma zanga, nada. Mercedes não conseguia explicar aquele desprendimento familiar.

Mas porquê então aquela lembrança recorrente: os domingos de manhã, na cama grande da mãe, as três a brincar, a conversar, Mercedes pedia: “mãe, conta de novo aquela história da Clarisse, quando andava nas freiras e fez aquilo à madre...”. Não se cansava de as ouvir. A mãe contava sempre tantas diabruras de Clarisse. Mercedes sempre foi mais obediente. Não era teimosa e cumpria calada as ordens da mãe.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Paizinho, vai pedir ao pai natal...

- Queres ler a “Selva”, do Ferreira Castro? (Pode ser que sim!)... Para o ajudares!
- Leio o Mogli com ele.
- É?
- Claro, quero apoiar!

Sem título

São algumas mãos.
São mãos que se tocam, mãos que existem e não podem ver mãos.
Mãos que chamam mãos, que querem tocar mãos.
A mão que espera.
A mão mole.
A mão firme.
A mão que aperta!

O teu cheiro

Às vezes cheiras às vezes não. Quando cheiras a ti eu gosto. Quando juntas muitos cheiros ao teu eu não gosto muito porque não me cheira a ti! Gosto alguma coisa, mas não muito! Não muita coisa, alguma. Gosto de lavar os dentes pela manhã e sentir o cheiro da tua barba feita na minha casa de banho. É o cheiro que trinco à noite, no teu rosto, com ela a crescer inexoravelmente...




Amanhã recomeçamos

tudo
de
novo!

Síndrome Maria de Medeiros e Joaquim de Almeida, fase aguda

- Estás a fazer postes de encomenda?
- Quase!
- Achas bem?
- Apetece-me...
- Achas?
- Vai à merda!
- Vai tu!

quarta-feira, outubro 26, 2005

O magnetismo que se desprende de mim...

Os meus cartões visa electron desmagnetizam-se voluntariamente, só com a minha presença!

Artigo único:

1º O poste anterior era dedicado ao doido-feliz.blogspot.com e eu fui um bocado infeliz em esquecer-me de o mencionar;

terça-feira, outubro 25, 2005

Bom dia, pela manhã!

Gosto de nevoeiro.
Gosto de acordar cedo. Gosto de deitar tarde.
Gosto do dia mas prefiro a noite.
Gosto de gostar.

Bom dia a todos!

segunda-feira, outubro 24, 2005

E assim foi...

No sábado depois da manhã com a prima Ana Pêra e do almoço em casa da avó Fáma fui para casa desligar, deslocar, ligar e verificar computadores. Limpeza de ficheiros, blá,blá,blá… Limpeza de casa, por roupa a lavar, etc…

No domingo o Mocho Pêra foi para a alcateia e nós fomos ver a Cate, a minha afilhadinha de um mês. Está uma delícia, apetece dar uma trinca!

Depois fomos buscar o Mocho e almoçamos. Pedi autorização ao resto do clã para uma sestinha (tenho o vicio da sesta, sou eu e um antigo PR) de meia hora. E eles como adoram mamar filmes de acção se eu não os contrariar com outro tipo de acção: “vai Choninha, depois acordo-te”, diz Vítor Pêra.

(E para ali ficam a matar neurónios com aqueles filmes: “lê-me as legendas, por favor!”, pedia exigindo o Pêra mais novo ao mais velho!)

Deixaram-me descansar, os lindinhos, mais de uma hora!

Ao fim da tarde fomos jantar a casa da minha amiga A., a minha irmã do meio. A A. Vive sozinha com o filho. O marido o J. está a trabalhar e a estudar fora do país.
Sentamos o Vítor Pêra no sofá, com uma mantinha de lã a ver o SCP. Os meninos na brincadeira, envolvidos em missões complicadíssimas para salvar a humanidade de um qualquer perigo eminente. Ficamos ali docemente a por a conversa online, enquanto a lasanha vegetariana crepitava no forno.

Sabe tão bem acabar o fim-de-semana rodeados de gente que se ama! Conversar e rir. Cantar Sérgio Godinho com as crianças. Ouvi-los cantar Dzert, a banda dos morangos com açúcar. O filho da A. a puxar as cordas da guitarra. O Martim Pêra com a pandeireta. E põe-te em guarda Rita põe-te em guarda…

sexta-feira, outubro 21, 2005

Fragmentação de um desvio

(Tive de sacar isto do computador do Martim Pêra, que vai haver inovação tecnológica cá em casa e o dito cujo vai para a reciclagem. É de 2003, um ano complicado, com a doença de T., que infelizmente teve o desfecho preconizado pelos médicos. Nunca o esqueceremos! Digo isto para enquadrar o tom depressivo e lamuriento.)





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O dia hoje está com cara de ontem, com um sabor conhecido, com um cheiro familiar.Zangado com a primavera chorou de mágoa, ao acordar.

A introspecção deu lugar à bonança e as nuvens comezinhas foram-se afastando, caladas, algumas chegaram mesmo a desaparecer...

O dia hoje é só mais um, não é o.


Tinham voltado a dormir juntos. Tinham voltado a chamar-se com carinho.

Talvez pudesse ser diferente, talvez conseguissem descobrir de novo o olhar de cada um como um reencontro desejado e adiado. Alguma coisa largada algures, não lembravam onde, fora perdida, onde fora deixada. Sentiam esperança que tivesse de facto existido.


Acordou e deixou-se ficar.Tapada, em silêncio, docemente embalada pela falta de vontade. Gostava de poder ficar assim, deste gostinho depressivo mas não deprimente, deste encantamento face a nada.

Sabia que dependia dela que tinha o poder de ficar ou sair. Que podia ficar só assim, que podia sair, que podia voltar, que poderia não voltar e sair ou ficar; que as coisas não tem apenas um lado, nada é finito, nem mesmo a morte. A vida e a morte são apenas dois universos distintos?



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Cansada do sempre igual, do dar sem receber, da estagnação, de viver sem paixão, com este sabor a nada na boca e no peito. Cansada das pessoas. Não as quero sentir, ouvir ou ver. Cansada da vida mas não cansada de viver.

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Era sempre assim ao acordar; aquele peso, aquela desorientação, aquele sonho esquecido. Tempo de olhar sem ver, de viver sem dar.
Era o mesmo de sempre vestido de cores diferentes. Ninguém. Tempo. Sonho.
A constança de sentir apenas a inconstância contida, a impermanência, a solidão. O sabor a nada...

O vazio é absolutamente igual (ao outro). Nada o enche, nada o preenche. Nem o sol nem a chuva, só o amor se existisse...


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Sinto um cansaço grande, só mesmo cansaço do cansaço que sinto, sem entrelinhas à mistura; sem saturação ou tristeza. Dormir pouco e sonhar muito e acordar sem vontade de sofrer numa cadeira de dentista. Não fui, deixei em branco a marcação!


“... Primeiro estranha-se, depois entranha-se.” Fernando Pessoa

Era apenas uma peça manhosa do jogo.
Era só outra, a mesma, aquela que sempre fora.
Agora sabia, o tempo avançava impiedoso e as marcas que deixava eram dolorosas mas aprendeu a gostar de se conhecer, de saber quem era.

Hoje, notas de ontem...

O meu cabelo está mesmo uma nojeira, até a D. me confessou baixinho que tinha sido cabeleireira grande parte da sua vida e disse-me para passar em sua casa para o desbaste.

(Vitor Pêra diz que é arriscado, que ela só deve saber fazer cortes soviéticos e eu desceria da categoria danças de salão para matinés dançantes na Ribeira.)

" O Paraíso na Outra Esquina", do M.Vargas Llosa, foi encontrado ao inicio da noite. Estava na caixa do correio, junto com extractos bancários e contas a pagar.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Hoje

Acordei com cabelo de bailarina de danças de salão. Algum Afrovida (manteiga de karité e tutano) depois, bem espalhadinho pelos fios e fiquei com o cabelo semi-domado.

Quase a sair de casa:
- Sabes onde está O Paraíso ?
- Sei lá, deixas livros por todos os lados...

quarta-feira, outubro 19, 2005

As queixas da dona deste corpo

Fui advertida/aconselhada a vacinar-me contra o influenza. Fiquei indecisa menos de vinte e quatro horas. Ontem constipei-me!

Estou cheia de secreções. Os cigarros sabem-me a mato seco queimado. O peito arde-me como se tivesse sido lixado a altas rotações por uma lixa mecânica. As mucosidades atropelam-se umas às outras para se evadirem deste corpinho.

Ataco com oxolamina e aguardo. Não estou febril. É só uma constipação!

Se doer muito tomo uma aspirina!

(O meu patamar de tolerância à dor é baixissímo.)

segunda-feira, outubro 17, 2005

Os desenhos que o céu faz

- A lua está cheia.
- ...
- Gosto tanto da lua assim!
- ...
- Achas que ela está cheia de quê?
- ...
- De luz..., de nada..., de qualquer coisa?
- Não sei, sei lá...
- Mas gostas, ao menos, da lua assim?
- Gosto, pá, claro que gosto! Até estava a pensar o quanto, realmente, gosto da lua assim, cheia...
- Ah!, é que parecia-me que estavas na lua...
- Mas, não seja por isso, lua por lua ao menos que seja a tua!

Se eu cair deixem-me ir

Há dias em que o piso está resvaladiço e preciso de alguém para me segurar em caso de deslize. Há outros em que tudo está aderente e quero caminhar sem medo.

Sou a pessoa mais perto de mim que conheço.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Preparar; partir! (Pisco o olho ao fim-de-semana)

Ouço "Jesus Christ Superstar", a opera rock com a música de Andrew Lloyd Webber e as letras de Tim Rice. Adoro especialmente ouvir o Carl Anderson, o Judas Iscariot.

Quando era miúda fiquei toda lixada por não ir ao cinema com a minha mãe e irmã ver o filme. É que gostava tanto de ouvir a banda sonora! E tinha a mania que era crescida o suficiente para lhes fazer companhia.

Nunca vi o filme no cinema! Vi no velhinho formato VHS à alguns anos, alguns...

Quando a cadeia FNAC se fixou no nosso país foi dos primeiros cd’s que procurei, só para o sentir nas mãos, porque o pouco dinheirito que me sobra vai inteirinho para livros (ultimamente não sobra nada, mas pede-se emprestado e fazem-se listas de pedidos ao pai natal).

Há uns três anos perdi a cabeça mas ganhei um cd duplo: ofereci-o a mim mesma!


Já fiz sofrer tanto o meu cunhado numa viagem à Serra da Estrela, que ele já não me deixa levar cd’s nas viagens partilhadas (reconheço que sou martirizante, ainda por cima trauteio por cima das músicas e faço vozes a imitar as personagens, sou pateticamente infantil!)

Bem, mas isto tudo só para dizer-vos, que sabe bem voltar de vez em quando aquilo que nos soa bem!


Bom fim-de-semana. O meu vai ser quase todo passado no Forum Lisboa, na 6ª Festa do Cinema Francês. Para quem não for pode sempre assistir na 2, neste Sábado às 23h, ao “Vidocq” de Pitof, com o Gerard Depardieu (Oh, mon dieu!).


P.S. O Vitor Pêra ficou triste de não pudermos assistir ao “Anthony Zimmer”, com a Sophie Marceau, suspeito que tem uma fixação por ela! Mas tem bom gosto ela é girissíma!

Estou acordada quase a ir deitar-me

Todos dormem.

A gata Dharma no sofá não foge também ela à habitual soneca crónica obstrutiva de um comportamento mais ou menos normal de gato.

Acho que também ela envelhece e fica sem paciência para esta vida de/em família connosco. Quer é uns bons pés de cama devidamente acondicionados para ela e comidinha águinha fresquinha e uns bons biscoititos e é o paraíso.

É tão fácil ser animal! É só deixar-se cuidar. É só fazer figura de gato ronronar e receber os donos quando regressam a casa dar umas turrinhas e deixar passar a mão pelo pêlo.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Virtudes

O meu nome é Vitória das Virtudes. Só herdei o apelido da minha mãe porque sou filha de pai desconhecido. A minha mãe num arremesso de cogitação levada aos limites pensou ter finalmente chegado ao tão almejado progenitor e a modos que para comemorar me pôs o nome Vitória.

Afinal o senhor Cândido da mercearia nada teve a ver com o assunto. Para mais confirmou-o com um atestado do seu médico de família onde se podia ler preto no branco que o infeliz era estéril.

Não havia volta a dar! Fiquei Vitória porque a minha mãe já se tinha habituado ao nome e acabei por ser registada apenas com Virtudes da parte materna.

A minha progenitora ainda esteve para falar com o senhor Mário, das entregas de bilhas de gás butano, ou com o senhor Artur, do talho onde se abastecia, ou com o senhor Eugénio, vendedor ambulante de fruta, mas acabou por deixar as coisas como estavam porque poderiam ser ou não, o melhor era não arriscar mais.

O marido da minha mãe ficou tão confuso, confundido, como de resto sempre foi, que nem se apercebeu da coisa e dizia a todos que eu era a cara dele! Quando lhe perguntavam “atão a cachopa nã tem o teu ‘pelido?”, dava a resposta de minha mãe: “aqueles burros da inscrição das criaturas nascidas enganaram-se”...

quarta-feira, outubro 12, 2005

Minto tão bem, pois sim?

Estou apaixonada! Conheci um homem e apaixonei-me! Eu não queria mas estas coisas... Depois da minha última paixão tinha-me dito: porra, nunca mais!, mas não sei como... aconteceu de novo! Acham possível viver paixões de caixão à cova? Está bem, devem ser todas assim, mas isto desgasta como o caraças, chego ao fim do dia cheia de dores nas pernas! Já não tenho idade para paixões!

...

E é a pura verdade!

...

Está calado titulo, enervas-me!
Já que me escreves, aguenta-me...
Merda de titulo, se soubesse ainda à pouco o que agora sei...

...

Minto com a verdade para disfarçar a mentira.

...

Estou Apaixonada! Estou radiosa!

segunda-feira, outubro 10, 2005

6ª Festa do Cinema Francês

Bem, vim até aqui.

Bem, apetecia-me estar por cá, só a tocar as letras que formam as palavras, a deixar rastro atrás de mim, mas decidi não escrever nada.

Falar de nada é falar de algo. Pudemos andar a vida toda a falar de nada e falar de algo.

Se é que me faço entender.

Pois, decidi falar de nada. Tentar escrever o nada em cada coisa que acontece. Nada acontece! Daí a temática do nada. Escrever o nada.

Bem me parece que tinha vindo até aqui!

O dia depois do dia de ontem

O Martim Pêra hoje não teve aulas porque a escola dele foi uma das muitas usadas no processo eleitoral de ontem. Pegou no resto dos TPC, duas cópias, caderno, estojo, lápis de cor e lanche e foi com a tia para a escola onde lecciona. Estava entusiasmado porque este ano não conhece a turma e ia todo expectante.

Quando lhe liguei, ao intervalo, preocupada com o famigerado jeito que deu ontem no pescoço, lá andava todo feliz a jogar à bola. Parece-me que se esqueceu da dor em casa. Ainda bem! O pior é se no regresso ela lá está ainda à sua espera...




Ontem fiquei seriamente preocupada com a pobrezita reeleita em Felgueiras. Nas suas declarações após as eleições a infeliz não foi capaz de dizer a cor do saco que consta da sua acusação, que lhe custava dizer a cor. Não é que para além da clara injustiça de que é alvo a desafortunada senhora agora sofre de daltonismo? Estou solidária com a dona Fátima, coitada, que teve de fugir porque estava inocente e no regresso fica sem conseguir diferenciar as cores! Que azar! Venham mais sacos, de qualquer cor desta vez,... E o "piquêno", o Carrilho, claro que o homenzito não podia ter feito qualquer declaração mais cedo: a sede de campanha só tinha moscas, teve que esperar pelos burros, sim, que isto de filosofar para as paredes também não tem assim grande graça, ele quer e merece o seu "publicozinho" (e já agora uma beijoquinha da Bábá, para que se veja!).

Mulher doente Mulher para sempre

Ontem os Pêra foram almoçar com a avó Fáma.

A avó Fáma é uma hipocondríaca deliciosa, com um vasto curriculum de doenças, operações e respectivas anestesias. Conhece quase todos os medicamentos do mercado farmacêutico e alguns que apenas existem em meio hospitalar. É a fã número um do Dolviran, um analgésico que ninguém usa, parece-me bem que só o continuam a fabricar por sua causa. É membro efectivo do clube dos utilizadores ferrenhos do Brufen e Clonix. E para que toma a senhora estes e outros químicos? Ninguém sabe ao certo, habituamo-nos a não valorizar os sintomas de que se queixa e os padecimentos, o pior é que um destes dias poderá ficar seriamente doente que iremos ter dificuldade em acreditar...

Resta dizer que na categoria “puré com bife” fica por um digno terceiro lugar, segundo o paladar apurado do neto Martim Pêra, grande gourmet com o seu inconfundível lema “só gosto do trivial”, (há uns anos tinha o primeiro lugar na categoria “salsichas com esparguete” atribuído pela neta Renata Pêra).

domingo, outubro 09, 2005

Um Domingo húmido e tugido

O Martim Pêra sofreu esta manhã uma luxação no ombro direito, com rigidez do pescoço associada e depois de muito choro, sem baba e apenas algum ranho (deve ser da seca!), resolveu protelar a ida à “alcateia” e ficar estendido no sofá depois das massagens da mãe, do pai, da empregada do café, que o sentou numa cadeira, falou da sua vasta experiência em casos iguais ou parecidos com os netos, coitadinhos, é mimo, eles querem é mimo, dizia a senhora, duas esfregas de Ozonol, dois DVD’S do Tintim, ... E os Robots em DVD de aluguer, que pesarosamente fui buscar ao Clube, que a pobrezinha da criatura viu no cinema e queria sugar devagarinho, na placidez do lar.

De resto passou-se...

Apanhei o Vitor Pêra à janela da cozinha, a fumar um cigarro, vendo a afluência às urnas.
- Muita votaria querido?

sexta-feira, outubro 07, 2005

Os Pêra irão gozar este domingo da melhor forma

Vejam este blogue blogautarquicas.blogs.sapo.pt e notem bem, espelhados nos cartazes da campanha para as autárquicas, esta velha raça lusitana.

No domingo tenho mais que fazer do que eleger alguns inúteis para avacalharem ainda mais a minha freguesia e o meu concelho. Puta-que-os-pariu! Metam os chouriços, os sacos de plástico, a parafernália de merdas inúteis nas mãos de quem quiserem, de mim levam sómente um: não, muito obrigada.

O Vitor Pêra brinca comigo porque a futura presidente da Junta, quase de certeza tendo em conta o eleitorado e o partido que representa, foi minha amiga, até que comecei a namorar o meu primeiro marido, paixão platónica dela (que culpa tinha eu de ser muito mais gira e interessante!). Diz o Pêra, a gozar-me, vota nela, coitada, já viste bem a desilusão amorosa ao que a levou?

Não votarei! Vou levar o Martim Pêra aos escuteiros e aproveitar o silêncio em casa e enfiar-me na caminha com o marido metendo a escrita em dia. Têm sido dias tão cheios que mal chega para saborear com tempo o que de melhor tem a vida! Eu voto no AMOR!

P.S. Sempre ajudo a poupar recursos, uma vez que não usarei o papelito destinado ao voto. Reciclem-no!

sábado, outubro 01, 2005

Esta noite espero por ti

Sei
já o tinhas dito

sabes
Mas esta noite espero por ti

escura
esta noite brilha

o chicote está guardado
o quarto arrumado

quero o amor manso
dormir depois de te amar

esta noite espero por ti

Vai-te deitar

Esta noite espero por ti
Quero o amor manso




Amanhã paro o dia na noite em que esperei por ti!

Mansa a noite em que esperei por ti!

quinta-feira, setembro 29, 2005

E, vou ler um conto enquanto não venho, nem vou:

Lugar lugares

Era una vez um pequeno inferno e um pequeno paraíso, e as pessoas andavam de um lado para outro, e encontravam-nos, a eles, ao inferno a ao paraíso, e tomavam-nos como seus, e eles eram seus de verdade. As pessoas eram pequenas, mas faziam muito ruído. E diziam: é o meu inferno, é o meu paraíso. E não devemos malquerer às mitologias assim, porque são das pessoas, e neste assunto de pessoas, amá-las é que é bom. E então a gente ama as mitologias delas. A parte isso o lugar era execrável. As pessoas chiavam como ratos, e pegavam nas coisas e largavam-nas, e pegavam umas nas outras e largavam-se. Diziam: boa tarde, boa noite. E agarravam-se, e iam para a cama umas com as outras, e acordavam. Às vezes acordavam no meio da noite e agarravam-se freneticamente. Tenho medo - diziam. E depois amavam-se depressa, e lavavam-se, e diziam: boa noite, boa noite. Isto era uma parte da vida delas, e era uma das regiões (comovedoras) da sua humanidade, e o que é humano é terrivel e possui uma espécie de palpitante e ambígua beleza. E então a gente ama isto, porque a gente é humana, e amar é bom, e compreender, claro, etc. E no tal lugar, de manhã, as pessoas acordavam. Bom dia, bom dia. E desatavam a correr. É o meu inferno, o meu paraíso, vai ser bom, vai ser horrível, está a crescer, faz-se homem. E a gente então comove-se, e apoia, e ama. Está mais gordo, mais magro. E o lugar começa a ser cada vez mais um lugar, com as casas de várias cores, as árvores, e as leis, e a política. Porque é preciso mudar o inferno, cheira mal, cortaram a água, as pessoas ganham pouco - e que fizeram da dignidade humana? As reivindacações são legítimas. Não queremos este inferno. Dêem-nos um pequeno paraíso humano. Bom dia, como está? Mal, obrigado. Pois eu ontem estive a falar com ela, e ela disse: sou uma mulher honesta. E eu então fui para o emprego e trabalhei, e agora tenho algum dinheiro, e vou alugar uma casa decente, e nosso filho há-de ser alguém na vida. E então a gente ama, porque isto é a verdadeira vida, palpita bestialmente ali, isto é que é a realidade, e todos juntos, e abaixo a exploração do homem pelo homem. E era intolerável. Ouvimos dizer que numa delas, o pequeno inferno começou a aumentar por dentro, e ela pôs-se silenciosa e passava os dias a olhar para as flores, até que elas secavam, e ficava somente a jarra com os caules secos e água podre. Mas o silêncio tornava-se tão impenetrável que os gritos dos outros, e a solícita ternura, e a piedade em pânico - batiam ali e resvalavam. E então a beleza florescia naquele rosto, uma beleza fria e quieta, e o rosto tinha uma luz especial que vinha de dentro como a luz do deserto, e aquilo não era humano - diziam as pessoas. Temos medo - pensavam. E o ruído delas caminhava para trás, e as casas amorteciam-se ao pé dos jardins, mas é preciso continuar a viver. E havía o progresso. Eu tenho aqui, meus senhores, uma revolução. Desejam examinar? Por este lado, se fazem favor. Aí à direita. Muito bem. Não é uma boa revolução? Bem, compreende...claro, é uma belíssima revolução. E é barata? Uma revolução barata?! Não, senhores, esta é uma verdadeira revolução. Algunas vidas, alguns sacrifícios, alguns anos, algumas. É um bocado cara. Mas de boa qualidade, isso. E o rosto que se perdera, que possivelmente caíra do corpo e rolara debaixo das mesas, o rosto? Lembras-te? Como foi que ficou assim? Não sei: tinha uma luz. Sim, lembro-me: parecia uma flor que apodrecesse friamente. Era terrível. Boa noite. E ela trazia um vestido de seda branca, e nesse dia fazia dezoito anos, e estava queimada pelo sol, e era do signo da balança, e tomou os comprimidos todos, e acabou-se. Não compreendo. E julgas tu que eu compreendo? Quem pode compeender? Ela era a própia força, aquela irradiante virtude da alegria, aquele fulgor radical..., compreendes? Sim, sim. Tinha um vestido de seda, e era nova, e então acabou-se. Para diante, para diante. Não se deve parar. Enforquem-nos, a esses malditos banqueiros. Este vai ter trinta e cinco andares, será o mais alto da cidade. Por pouco tempo, julgo eu. Como? Sim, vão construir um com trinta e seis, ali à frente. Remodelemos o ensino. Cantemos aquela canção que fala da flor da tília. Bebamos um pouco. E outro, o que viu Deus quando ia para o emprego?! Isto, imagine, às 8 h. e 45 m. de uma tranquila manhã de Março. Uma partida de Deus? Boa piada. Não amará Deus essas maliciosas surpresas? Um pequeno Deus folgazão?! Ele ficou doido. Começou a gritar e a fugir. Que Deus vinha atrás dele. E depois? Bem, lá construíram o prédio com trinta e seis andares, e o outro ficou em segundo lugar. Isto é o trabalho do homem: pedra sobre pedra. É belo. Vamos amar isto? Vamos, é humano, é do homem. E então as crianças cresceram todas e andavam de um lado para o outro, e iam fazendo pela vida - como elas própias diziam. E então as condições sociais? Sim, melhoraram bastante. Mas uma delas começou a beber, e depois a coração estoirou, e ficou apenas para os outros uma memória incómoda. Parece que sim, que tinha demasiada imaginação, e levaram-na ao médico, e ele disse: aguente-se, e ela não se aguentou. Era uma criança. Não, não, nessa altura já tinha crescido, bebía pelo menos um litro de brandy por dia. Nada mau, para uma antiga criança. A verdade é que era uma criança, e não se aguentou quando o médico disse: aguente-se. E as ruas são tão tristes. Precisam de mais luz. Mas nesta, por exemplo, já puseram mais luz, e mesmo assim é triste. É até mais tristes que as outras. Estou tão triste. Vamos para férias, para o pequeno paraíso. Contaram-me que ele tinha uma alegria tão grande que não podia aguentar um copo na mão: quebrava-o com a força dos dedos, com a grande força da sua alegria. Era uma criatura excepcional. Depois foi-se embora, e até já desconfiavam dele, e embarcou, e talvez não houvesse lugar na terra para ele. E onde está? Mas era uma alegria bárbara, uma vocação terrível. Partiu. E agora chove, e vamos para casa, e tomamos chá, e comemos aqueles bolos de que tu gostas tanto. E depois? Ele era belo e tremendo, com aquela sua alegria, e não tinha medo, e só a vibração interior da sua alegria fazia com que os copos se quebrassem entre os dedos. Foi-se embora.


Contos Portugueses Modernos (1984)
Herberto Hélder


Beijo cheio de noite.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Fui visitar minha tia a galope, ope, ope...

Estou aqui a borregar com Vitor Pêra, vemos Rêtêpê 2, super-filho dorme pela noite fora. As horas seguem o seu encadeamento normal; nem mais nem ontem...

A Fátima Felgueiras voltou com menos vinte (20) anos, o cabrão do país continua na mesma, a puta da vida também...

Vivemos num país que não conhece o significado da palavra: R E S P O N S A B I L I D A D E... Dá para fugir e voltar, dá para sair de mansinho, dá para ficar calado e de repente soltar o piu...

Mas quem me mandou a mim sentir curiosidade e ligar o animal? Confesso, que qualquer tentativa foi frustrada: ainda não vi a tropa. Quis ver, mas faz-me falta a programação para coordenar as minhas horas com os horários alienatórios das estações televisivas. Fica para a próxima.

O piai ai o piu piai
1X’s + ai ai ai ai
O piai ai o piu o piai ai
Ai! O piu pi ai ai o piu o piai...





Estou beijoqueira: Beijos!

terça-feira, setembro 20, 2005

Uma gaivota voava voava asas de vento coração de mar. Como ela somos livres somos livres de voar...

O Martim Pêra hoje pela manhã:
- Amas-me?
- Claro que amo, não sabes que sim?
- É que tive um sonho...
- Então, o que é que sonhas-te?
- Não me lembro bem... Era como se fosse um filme...
- Tens razão filho, os sonhos são como filmes...

Não lhe disse que eram bobines e bobines de fita, de realizador desconhecido mas com argumento nosso! Eram sete da manhã e para além de acordar com a pele toda amarrotada funciono muito mal sem cafeína e nicotina a circular pela corrente sanguínea.

Fui leva-lo à escola. Está com uma constipação e um pouco febril, fruto dos passeios, por casa, em super-cueca e pés descalços. Quando o chamo à atenção replica sempre que não sabe das socas de cirurgião, as preferidas.

Eu? Tenho andado a sofrer de uma crise grave de introspecção aguda resistente a qualquer remédio. Apetece-me ficar por casa, no universo familiar, a ler, sem vontade de contrariar este desejo de inacção. Não escrevo, não pinto, não me dou e não recebo. Não me apetece ver os amigos ou empreender qualquer actividade. Leio. Leio. O livro que trazemos entre mãos é como um prolongamento nosso. O espelho que nos reflecte.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Se cair agarrem-me!

- Olhe! Desculpe!
- Sim?...
- Apetece-me algo diferente...
- Sim...
- Pois, é como lhe digo; talvez um ponta de lança ou um médio, ...,
- Com calma. Pense bem. Decida com atitude.
- Era um avançado, “faxavori”!
- Concertina!

quinta-feira, setembro 15, 2005

Prorrogação a termo incerto, espaçamento dilatado, intervalos erráticos, algumas nuvens e bamboleios no litoral oeste... Pequena descida da temperatur

Alma desgrenhada, alento áspero, ânimo pardacento, coração selvagem, energia descontínua, esforço esgaçado, força fosca, valor pardo, vida esfarpada, vigor desfiado, existência lanhada, ente plangente, ser revolto, viço desbotado,

movimento, fundamento, comportamento,
acção, alicerce, atitude,

espírito ampliado, carácter desabrochado, habitante consertado, afecto refrescado, afeição reiterada,

âmago dobrado guardado à espera do termo certo.

quinta-feira, setembro 08, 2005

Derramo o resto dos dias de férias pelos livros...

(...)

Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio.


(...)

Não sei de quem recordo meu passado
Que outrem fui quando o fui, nem me conheço
Como sentido com minha alma aquela
Alma que a sentir lembro.
De dia a outro nos desamparamos.
Nada de verdadeiro a nós nos une –
Somos quem somos, e quem fomos foi
Coisa vista por dentro.

(...)

Quer pouco: terás tudo.
Quer nada: serás livre.
O mesmo amor que tenham
Por nós, quer-nos, oprime-nos.

(...)


Fernando Pessoa
Odes de Ricardo Reis

segunda-feira, setembro 05, 2005

É capaz!

É capaz de mudar o tempo e chover...
É capaz de ser apenas a noite antes do dia,
É capaz de ser diferente amanhã,
É capaz de nos sentir-mos melhor e assim,
É capaz de sermos quem somos e ver os outros!

É capaz de ser capaz quem capaz é de ser capaz!
Sejam!

São promessas, senhor, são promessas...

Lido em Bartoon, de Luís Afonso, Público, 4/9/2005:

- O PS diz que a legislatura que elegeu Sócrates só terá início em 15 de Setembro. – Neste momento ainda está a correr a anterior legislatura.

- Nasce uma nova esperança! – Quem sabe agora na legislatura dele Sócrates cumpra as promessas eleitorais.

sábado, setembro 03, 2005

O Canto do Desencanto!

Acabaram os dias de férias embora ainda não esteja a trabalhar. Não posso postar conforme gostaria nem visitar os amigos com muita pena minha. Só quando voltar ao meu emprego com os meios de acesso à internet do chefe índio voltarei assiduamente a este espaço.

Os primeiros dias sem o meu blogue foram um vazio. Depois tudo assumiu o devido valor, real/virtual, e voltei sossegadamente à minha vida, de despreocupada leitora sem me aproximar sequer da folha de papel.

Agora estou aqui: arrumei e limpei a minha casa pintei as unhas de encarnado, vermelho ferrari F50, e voltei à minha vida: tinha saudades de andar de metropolitano!, é deprimente mas tinha! De dar uns cêntimos aos meus cegos preferidos! De esperar algumas perturbações nas linhas! Dos tags dos cheiros do jornal do metro (sic) da nojeira costumeira!

Voltar a pensar na desgraceira do défice, num governo desgovernado desatento sem pinga, num país que já ninguém quer.

De volta os espectros do passado: madeiras secas e ares do pinhal, só. Que seca!

Isto resolvia-se com uma linda duma paralisação geral, sem organização de qualquer central sindical nem BE, expontânea, e o apelo do povo, os próprios dos expontâneos, para nos livrarem destes gajos, apegados em betonizar sobre cinzas um país deprimido: ao menos nos tivessem fodido quando puderiamos dizer que não; agora a alienação geral conduz ao inevitável Yes, Oh, Yes, ... Venham as próximas medidas económicas: façam-nos pagar os sonhos dos otários e tegevenoremo-nos em Madrid, a um suspiro de distância...

Tenho pena deste país e de todos mas eu por mim comecei a aprender espanhol, vou na próxima apanha de morango e não volto! Não espero pelo TGV ou OTA!

Fiquem bem!






Mando um beijo muito especial para a grzl, ontemhoje, que goza de merecidas férias, para o Solrac, faztudo, o meu padrinho que continua no seu escritório a lutar pela vida, a Anatema, voydetapas, que é uma querida, detentora de todos os feedbacks que me fazem acreditar no dia depois do último poste e ao índio,last but not least,escritaepinturas, ao meu Jorge, que sei lindo magro e bronzeado, segundo testemunhos fidedignos, tenho saudade e beijo os meus amigos!

Lindos!

Os Pêra mamam a selecção de todos nós e cantam Nelly Furtado: Como uma Força!

segunda-feira, agosto 29, 2005

Minha Passagem Para o Breve.

Conto os dias horas minutos para o retorno à normalidade empapada no tempo que me foge.

Ao longe vejo o peso do cansaço que esqueci e os dias sempre iguais que me esperam...

Tempo de balanço para um afincar de pés na realidade enevoada, no desgaste de ver o país as pessoas a tristeza a miséria a fome e a indiferença de quem pode falar o grito desprezado... O que ficou depois de tudo arder...

De Ary dos Santos, Cavalo à Solta,:

Minha laranja amarga e doce
Meu poema feito de gomos de saudade
Minha pena pesada e leve secreta e pura
Minha passagem para o breve breve instante da loucura
Minha ousadia meu galope
minha rédea meu potro doido
Minha chama minha réstia de luz intensa
De voz aberta minha denúncia do que pensa do que sente a gente certa.

Beijinhos a ontemhoje, faztudo, escritaepinturas, voydetapas, todos blogspots.com e pessoas especiais...

Beijo com sabor a réstinhos de férias... salgadas e doces... Doces e salgadas... Sabor a Beijo... meu... réstinhos...

sábado, agosto 27, 2005

Ao Cão que acompanha o caminhar

Caminhava absorvendo tudo cada pedra cada árvore cada som cor cada atalho alguns pedaços de céu.

No fundo também assim era a vida vários caminhos várias viagens várias corridas chegadas e partidas.

Aspirava a fragrância daqueles pinheiros na quietude da tarde cálida e apetecia-lhe ficar para sempre naquele instante.

Ao seu lado só o cão tivera coragem para desafiar o bafo estival e indeferir a sesta para acompanhá-la.

Lembrava nostálgica o som de crianças a brincar por ali. Agora eram só casas abandonadas outras já só sólidas pedras de granito ao sabor do tempo paredes caídas que lhe sussurravam memórias adormecidas dentro de si.

Arquivos de tempos que foram ontem. Partículas de gerúndios esquecidos. Estava contente de hoje ali caminhar consciente da viagem em preparação para a partida depois da chegada.

Caminhava com o cão ao seu lado atrasando-se por vezes correndo atrás de uma borboleta ou ficando para trás para brincar com um saltarico ou ladrando para algo inaudível a qualquer outro ser.

Só o cão dissera um sim incorpóreo ao apelo do passeio.

Caminhava ao seu lado atrasando-se apenas na contemplação de coisas lá da raça dele lá de cão.

Cauteloso parava quando era para parar e caminhava quando era para o fazer fazendo também seu o outro caminhar.

sábado, agosto 20, 2005

Ainda de férias, com muito prazer...

... Perdi a minha cor de peido.Não me doem as pernas. As olheiras atenuaram. Ganhei elasticidade. Ganhei o pulmão direito e metade do esquerdo.

Vitor Pêra chama-me magra de novo.

Martim Pêra perdeu também cor de gás e diz que nasceu em mil novecentos e África...


A Calcanhoto ficou em casa!

A Dharma está com a avó Fáma!

Vou ali e volto mais coisa menos coisa...


...BoAs... FéRiAs... PaRa... ToDoS... BoAs... PaRa... ToDoS... FéRiAs...

sexta-feira, agosto 12, 2005

Férias!

Vou...

...Trancoso, Região Centro, Distrito da Guarda, Vale do Côa, 900 metros de altitude, Região de Turismo da Serra da Estrela...

... a cidade encontra-se ainda rodeada de muralhas da época dinisiana, com um belo castelo também medieval. Com os seus numerosos monumentos, da arquitectura civil e religiosa, constitui um dos mais expressivos Centros Históricos do país.

Ver mais em trancosomedieval.blogspot.com e trancoso.pt.vu


Enquanto vou e não volto venho, assim, sugerir as minhas passagens de todos os dias, para enganar com prazer o tempo de quem fica (o meu blogue tem uma qualquer irregularidade que não me permite linkar no seu template):

escritaepinturas.blogspot.com
faztudo.blogspot.com
voydetapas.blogspot.com
ontemhoje.blogspot.com
mendesferreira.blogspot.com


quemescreveescreve-se.blogspot.com

Blogas férias, perdão, boas férias e boas blogadas e bloguices para todos!

Beijos dos Pêra e um muito especial, meu...

quarta-feira, agosto 10, 2005

Sim, sim, sim ou versão hard: yes, yes, oh yes!

Sim, Vitor Pêra, prometo que hoje ou amanhã, o mais tardar na sexta-feira, faço as malas, sim, eu sei que vamos no sábado, bem cedo, sim tenho os teus calções lavados, não, já sabes que não passo a ferro, caraças estás de férias ou vais para a companhia de seguros? Sim, os produtos de higiene, sim a certidão para o tio, sim, o cheque para a Carmo, sim pá!, estou a ver-te, sim, claro que estou atenta, o carregador do telemóvel, claro que não esqueço... Sim o ano passado deixei ficar lá o outro, mas também não dá para este pois não? Sim, o material para o Martim Pêra refrescar a aprendizagem, sim, pá, está bem, sim o teu ansiolitico para te ajudar a deixar de fumar, sim, as pastilhas de nicotina, sim, já comprei comida para a Dharma suficiente, sim também os biscoitos, sim a minha mãe diz que vem cá, não não a convides para jantar na sexta, as directrizes são dadas pelo telefone, ando sem pachorra! É pá alguma vez te faltou alguma coisa! Deixa lá homem se me esquecer dos boxers compro-te uma cueca de feira ou daquelas made in china com formatos de animais e fio dental, não te preocupes, ainda hoje é quarta-feira, temos imeeeeeeeeensoooooooooo tempo.

Este é o tipo de pressões que sofre uma super-ultra-herói, reformada e com o rabo a crescer. O que vale é manter ainda residuos dos tempos de super, em que era conhecida por mulher elástica. Lá esticarei os bracinhos, sem mexer o rabinho, e meto tudo num saco qualquer! O gajo fica insuportável quando conta os dias! Take it easy, "babe"...


segunda-feira, agosto 08, 2005

Decidi Convocar/Fabricar/Obter apoios para uma "manife"

[Ou me são atribuídos períodos de descanso compulsivos, da minha chefia máxima, ou tentarei organizar uma manifestação contra tudo e todos!]

Clandestinamente com Vitor Pêra ajudando no que pode:

(Itens decididos em plenário, directivas máximas, imediatamente após a silly season.)

1º A Darma Pêra não deve dormir tanto.
2º Vitor Pêra deve deixar de fumar tal como prometeu no século passado.
3º Helena Pêra vai deixar o ingestão compulsiva de álcool, doença genética que herdou sem pedir, assim como o local de nascimento, no género, se é que pudemos comparar...
4º Vamos mudar de música!
5ª Vamos abrir outra boémia, do nosso país, não uma ruiva da Checa (que saudades da bejeca de Praga! - isto sou eu, Helena Pêra, a falar!)
6ª Convocamos portugueses, africanos, brasileiros e outros emigrantes, força do nosso país, para todos, juntos, unidos, evitarmos a extinção involuntária de uma nação com séculos de história, morrinhenta, sabemos!, mas é a nossa!
7ª Fabricar um sentimento comum de revolta e de não aceitação dos factos evidentes: criar um factor de união, uma voz universal que traduza a “sentimentalidade” de alguém que já foi povo.
8ª Obter apoios de partidos políticos supostamente insatisfeitos, associações, instituições com pagamentos estatais em atraso, organismos sem fins lucrativos descontentes com apoios autárquicos.
9ª Juntar q.b. centenas de médias empresas, dezenas de famílias numerosas descontentes com o aumento do IVA, associações de inquilinos e senhorios, desempregados em via de perder o subsídio, empregados na iminência do desemprego, Carris, CP, Vimeca, Rodoviária Nacional, Mafrense e afins, Sindicatos, ... etc e cetera e terá, todos, todos, quem vier virá e será bem recebido.
10ª Misturar , agitar, verter e esperar pela explosão.


Espero o maior apoio possível por/e a esta causa, perdida, talvez, mas que não será só minha, digo eu!, há-de ser de todos; os filhos de nossos pais, os pais de nossos filhos, os avós dos nossos netos; filhos dos nossos filhos...



Eu não quero que o meu ciclo fique só pela procriação, gostaria de qualidade de vida para correr e cair com os meus netos, de me puder levantar e seguir a gargalhar, sem esta dor e mágoa que volta cada Verão mais intensa, este desespero de quase perder a esperança, que me deixa cada vez, mais, a ver monocromáticamente...


Por isso, convoco e fabrico as necessidades de todos nós e prometo obter apoios para definitivamente organizar a exteriorização da manifestação daquilo que no fundo todos pensamos mas calamos, ao não declarar aquilo que sentimos.


P.S. único: as folhas das àrvores começaram a cair...

o momento

" Que fazer? Isolar o momento como uma coisa e ser feliz agora, no momento em que se sente a felicidade, sem pensar senão no que se sente, excluindo o mais, excluindo tudo. Enjaular o pensamento na sensação, (...)"

O Livro do Dessassossego, Bernardo Soares (FP)

Fim-de-semana é para ganhar coragem...

A vida é feita de pequenos nadas, até Martim Pêra canta e recanta SG ( a sua preferida é a Balada de Rita)...

(O que seria a minha vida sem música? Sem livros, sem papel e canetas várias...
E sem o meu Vitor Pêra que aceita e respeita as minhas loucuras acabando sempre por também subir a bordo!)

O fim-de-semana foi óptimo! Depois de uma sardinhada no sábado, o filho foi dormir a casa da avó, com a prima. Os velhotes (nós) voltaram para casa com um olhar de quem se quer provar logo ali no elevador (elevador antigo muito lento a chegar ao décimo piso!).

...

Fomos buscar o Martim Pêra e a prima no domingo depois de jantar, também nós saciadinhos e bem alimentadinhos, muita Volta a Portugal, muito atletismo...

...

Adorei ver o João Carlos Silva, de São Tomé, mas sem o seu Kalu, a cozinhar na Volta! Com muita pena minha não deverei estar ainda em Trancoso aquando da sexta etapa.


A contagem final para as férias tão ansiadas...


sábado, agosto 06, 2005

... estou cansada de respirar fumo...

... estou para aqui, depois de um amor com sexo e graça. A super-mãe-de-pai-ultra-herói, portanto, super-avó-ultra-paterna, de pai-super-herói não conseguiu ficar com Martim Pêra e a noite não foi por aí além... Foi só um manso manso para aliviar tensões...

Ir e voltar!

...cores...

Take “uane”: sala, sofá, secretária, cadeira, gata deitada com Vitor Pêra. Helena Pêra guarda no word:

Vitor Pêra mama pastéis de nata, sem revolta...

... meti os pê-agá_ones e ouço o som do meu leitor de cd, que só lê, do PC, o mesmo que me tem acompanhado os dias... últimos...

... se o meu amigo Exaustão cá estivesse dizia que esta merda é deprimente e lavava-me com um trash metalzinho, de deixar a alma nova...

... por isso, ou talvez não, fico limitada a este espaço condicionado, com ar, oásis, lounge, qualquer coisa que me aquieta a inquietação...

... sem saber exactamente o que sinto o que faço o que deveria fazer...

Vitor Pêra dorme o sono dos justos!


Acho que o vou levar à cama e postar isto.
(Amanhã rasgo as memórias e escrevo tudo de novo! )


Com o meu sabor,
Beijo,
Helena Pêra

Durmam bem!

(Tantas reticências!!!!!! !!!!!!! !!!! !!! !! ! )

quarta-feira, agosto 03, 2005

Acabámos de brincar às operações com o filho!

Vitor Pêra veio à consulta do doutor Martim Pêra com queixas de dores abdominais intensas, confirmadas com o martelo (estamos muito mal de instrumentos cirúrgicos, neste momento só mesmo de construção civil!) e tivemos mesmo que intervir.
Helena Pêra, assistente fiel do doutor Martim, ajudou na preparação do doente.
Começamos com a broca mais grossa do berbequim, seguida da serra eléctrica e abrimos Vitor Pêra, sempre assistidos pelo anestesista e com a anestesia muito bem aplicada.

Muitos ressonos e gases depois Vitor Pêra acorda estremunhado com a conta à frente:

- Senhor Pêra, ainda bem que acordou! Correu tudo muito bem. Tem aqui a continha, para pagar já, se fizer o favor...
- Mas..., então,... era o quê? – entaramelado pergunta.
- Ó senhor Pêra só sei que tenho aqui a continha do doutor Martim... Ele não me disse mais nada... Só sei que nada sei, como Sócrates, o filósofo...

E imediatamente o doente tem nas suas mãos um papel ranhoso e manhoso com os seguintes dizeres rabiscados, que lê, desfocados:

“Vitor Pêra, Companhia de seguros, funcionário 4153:

Ressonos = 25,00
Gases = 50,00
Anestesia + Anestesista = 125,00
Cirurgião = 90,00
1ª Ajudante = 55,00
Sala de piso = 250,00
1 Benzodiazepina, pré-operatório = 5,00
Pipocas e refrigerantes para familiares na sala de espera (com desconto cartão minipreço) = 15,00
Taxi para casa (os familiares da pipoca foram-se todos embora teve de chamar-se um, porque o doente não tinha a isenção em dia, para não ir de ambulância) = 35,00 (com gorjeta )

Total: 650,00 (Seiscentos e cinquenta euros)”

- Mas,... mas,... o-que-é-que-eu-tinha,... eu não percebi bem o senhor doutor, antes da operação...
- Ó senhor Pêra quer com IVA ou sem IVA?
- Bem eu não percebo muito bem desses termos medicócientificos... Mas gostava que me dissesse a verdade. É muito mau?
- São gases senhor, são gases...

Quarta-Feira, o dia depois de ontem...

Tive insónias. Agarrei num livro de Cunningham enquanto o sono não vinha. Os Pêra dormiam tranquilos, no quarto grande, com Dharma Pêra a seus pés. Quando finalmente o esperado chegou apaguei a luz da sala, dei uma traulitada com o pé direito na porta, guinchei de dor, às escuras, maldizendo a porra das portas. Sou tipo gato odeio portas! Mas o pior é que é reciproco! Bem, adiante... Deitei-me na cama do Martim Pêra e adormeci.

Acordei com ele a refilar, sonolento e um pouco febril ainda, "Vitor Pêra, cala-te, estás a ressonar!".

Trocámos de cama. Martim Pêra devolvido à realidade do seu quarto, e eu ao leito conjugal.

Acordei mais setecentas vezes. O brufen. A água. O querer fazer xixi. A dor de barriga. As idas e vindas. (Ai as portas senhor!)

O ressonar tranquilo. Vitor Pêra jura a pés juntos que passa as noites a acordar, quando à noite me queixo do cansaço das noites mal dormidas...

(Já contratei uma firma de segurança para instalar uma camara de video vigilância oculta, para vermos juntos o filme da nossa vida!)

... esta amargura é cansaço com muita oscilação hormonal à mistura...

terça-feira, agosto 02, 2005

A Minha Estrelinha

Parte 1 – Eu

Estou com uma puta de uma azia existencial, daquelas que tantas vezes tenho, que me deixa cheia de perguntas sem resposta. Parece tudo tão fútil e ausente de sabor que fico estática à espera de me ver reagir, sem resultado...

Encho-me de música fujo dos livros da escrita dos quadros inacabados... de quase tudo...

... Estou cansada dos outros: quero tempo-tempo-tempo para mim, só, sem me preocupar com os outros... Poder também delegar neles, os outros, as responsabilidades que não são só minhas!


Parte 2 – A esperança

Amanhã o dia será muito melhor.


Parte 3 – O meu outro eu

O meu filho está doente e eu fico com o peso do mundo nos ombros, não consigo evitar sentir-me assim, impotente, impotente, impotente...

Pois terá de ser operado, coitadinho do meu lindinho!, mas é uma intervenção banal que o deixará como novo, pronto para novas e estimulantes etapas do seu crescimento...


Parte 4 – A estrela

A minha sorte ou natureza ou treta assim é que facilmente aceito a realidade, não a podendo modificar tenho de a aceitar, e acredito sempre na estrela que vejo à noite no céu e que eu acho ser só minha, que presunção,...

... enquanto não a reivindicarem afianço que aquela estrela é mesmo minha!

segunda-feira, agosto 01, 2005

A gueixa Helena Pêra

Esmerei-me com o jantar.

Pedi à C. para o Martim Pêra lá pernoitar.

Aluguei um filme com a Sophie Marceau, que ele venera, desde que a conhecemos no Fórum Lisboa, num dos primeiros festivais de cinema francês patrocinados pela companhia de seguros.

Tomei um duche, vesti o fio dental que ele tanto gosta, o da "patinagem artística"... E por cima só o vestido moçambicano que herdei da avó Malacueca.

Chegou cansado e transpirado, "sabes lá o dia que tive, tá-tá-ti, tá-tá-tá... Tirei-lhe a roupa, mandei-o calar e fiz-lhe uma massagem relaxante, daquelas que eu sei quando quero!

Dharma Pêra permanecia apoiada nas patas traseiras à entrada do quarto, à espera para dar as "turrinhas" de boas-vindas ao dono, com aquele seu olhar felino penetrante...

"Deixa-te estar, vou preparar o banho!". Nem era preciso dizer nada. Vitor Pêra não mugia nem tugia, relaxadíssimo, acho que ainda lhe ouvi um ressono enquanto me encaminhava para a casa de banho.

Enchi a banheira, com água a ferver, como o meu super adora, com o gel de chuva tropical do carrefour que o meu ultra tanto aprecia.

Vitor Pêra achou muito estranho, deve ter pensado "... a gaja está com SPM e em vez de me maltratar e gritar comigo está tão doce e dengosa,..."

No fim do jantar servi-lhe a sobremesa: a factura da PT, a cobrar na sua conta bancária dentro de dias, com o meu "gasto" de internet.

O homem ficou paralisado! Aproveitei e saltei-lhe para cima. Esqueceu a factura e arrancou-me o fio dental.

Epílogo: Cá se fazem cá se pagam.

quinta-feira, julho 28, 2005

Tipo Paulo, coelho bravo, no género...

Era uma vez um velho sábio, tido como mestre da paciência, sendo capaz de derrotar qualquer adversário.
Uma tarde, um homem conhecido pela sua total falta de escrúpulos apareceu com a intenção de desafiar o mestre da paciência. O velho aceitou o desafio e o homem começou a insultá-lo. Chegou a jogar algumas pedras na sua direcção e gritou todos os tipos de insultos.
Durante horas fez tudo para provocar o velho mas este ficou impassível. No final da tarde, sentindo-se exausto e humilhado, o homem deu-se por vencido e retirou-se.
Impressionados os alunos perguntaram ao mestre como ele pudera suportar tanta indignidade. O Mestre retorquiu:
- Se alguém chega junto de ti com um presente e tu não o aceitares, a quem pertence o presente?
- A quem tentou entregá-lo! - respondeu um dos discípulos.
- O mesmo vale para a inveja, a raiva e os insultos. Quando não são aceites continuam pertencendo a quem os carrega consigo. A tua paz interior depende exclusivamente de ti. As pessoas não te podem tirar a calma. Só se tu permitires...

O Vitor Pêra está preocupado...

Vitor Pêra chegou a casa, vindo da companhia de seguros, e depois da declaração de amor diária a Helena Pêra assumiu um tom grave e falou:

- Acho que não deves continuar com o blogue! Deves canalizar as tuas energias para outras formas criativas, mais protegidas, ... não sei se me entendes...

O discurso é recorrente...

... Helena Pêra sabe-o de trás para a frente...

- Não devias postar merdas que tens escritas, devias limitar-te ao imediato!

Ele passa a vida a correlacionar o que se passa na companhia de seguros com os seus pobres clientes, autores não publicados, que sofrem alheios roubos inocentes de ideias próprias.

- Está bem meu herói-marinheiro-na-arte-de-manobrar! A saga dos ultra super está de volta e esqueçamos o resto...

- É melhor Chóninha, fico mais descansado...

"Costa da Rapariga", Verão 2001, odisseia na areia.

Os portugueses cultivam o hábito de faça sol ou nem por isso rumar à beira-mar, em fins-de-semana familiares.

Vai o pai, a mãe, os filhos e a sogra, no mínimo... Alguns levam também o cão, o colchão insuflável, o chapéu de sol de uma qualquer marca de ice tea, a geleira azul com bordas brancas, as cadeiras de praia para evitar a areia agarrada ao bronzeador oleoso, sem factor de protecção ou índice de refracção dos raios ultra...

Invariavelmente nunca levam sacos de plástico para guardar o lixo que fazem e deveriam deixar nos respectivos caixotes ao ir embora da praia...

E que fazem estas pessoas? Chegam, abancam ou antes atoalham quanto mais em cima da família do lado melhor e espalham-se pelo areal, assim como toda a panóplia de coisas e coisas: produto genuíno adquirido numa campanha praia e campo, de um qualquer hipermercado.

Estas famílias invariavelmente sofrem de otites desde bebés por isso gritam, gritam muitíssimo entre si.

Por outro lado não sofrem de artrite reumatóide e exercitam-se com uns belos pares de estalos nos filhos quando estes insistem em abrir a geleira para se refrigerarem, comendo como alarves e “ir ao banho”, de seguida.

Assistir in loco a estas cenas familiares tão genuinamente lusitanas é de não saber se se há-de rir ou chorar ou meter a toalhinha debaixo do braço e ir para casa ver o desporto na RTP2 e prometer que vamos começar a ir a museus ou então a embebedarmo-nos de tal forma que a puta da ressaca não nos deixe insistir em ir apanhar com areia por todos os lados, como se fossemos uma ilha...

quarta-feira, julho 27, 2005

A compulsão

(...)

Quando Bárbara chegou aos trinta e cinco quilos a equipa multidisciplinar, que a acompanhava desde o inicio da doença, falou de novo com os pais e explicou-lhes que a solução era o internamento compulsivo, fortalecido pelos dois psiquiatras, ou já não puderiam responsabilizar-se mais pela recuperação da filha.

(...)

Bárbara era a filha de seus pais e aquela que sempre teve tudo, até a natureza do seu lado. No entanto havia qualquer coisa errada que a fazia recusar-se a ser, quase de um dia para o outro, de mansinho, a mesma, ela.

(...)

O Dr. Pessegueiro desde o início falou em doença crónica. Tentou explicar-lhes que Bárbara tinha um problema emocional em lidar com os sentimentos, ou assim, linguagem não entendível a leigos, em que os sintomas silenciosos acabavam traduzíveis em adições várias, todas elas difíceis de resolver.

(...)

Subiu no elevador e disfarçou o olhar no espaço disponível, sem gente. Como é que eles tinham tido coragem de lhe fazer isto!
Ainda havia em Bárbara um resto de resistência, mas ela sabia que tinham razão. Bárbara também estava cansada de psicoterapias, consultas, pesagens, lágrimas, pequenas vitórias destruídas no dia seguinte...

Eu sinto a tua falta...

...às vezes nem sempre sinto a tua falta e pior sinto falta de mim enquanto estive contigo e até sinto falta de ti quando não estavas e eu na casa imensa podia ser apenas quem era sem as tuas amarras e censuras e sinto falta de fazer-te deixar ir com os meus desafios até ao fim...

... ainda bem que me fazes falta porque não conseguia viver contigo...

terça-feira, julho 26, 2005

Uma supermãePêraUltraHerói também vacila...

Apesar da Lua Cheia Helena pêra está com o bio-ritmo desgraçado, nem arcanjos nem quejandos nem afins... Depois, entrou na fase de "chocagem" de menstruação ou seja SPM, ninguém a atura nem ela pode sentir ninguém por perto; tipo Luiz Pacheco: conselhos para as gerações vindouras? Para quem começa agora: PUTA QUE PARIU! ... Mais ou menos isto... Ai!... Ai!...

Do dia nem falo (não é isso!, sei que a lua está cheia, mas não se estiquem...), para quê falar das tristezas enterradas quando na pior das hipóteses amanhã não puderá ser pior que hoje...

Venha ele! O dia a seguir à noite outra Helena Pêra novinha em folha com mais um dia vencido de SPM!!!

Beijos meus para todos vós humanos e supers... Ai!... Como eu estou...

Resultado do fantástico passatempo

A gerência deste blogue informa os parcos comentadores que foi decidido não atribuir quaisquer dos prémios uma vez que os mesmos teriam de obrigatóriamente ser remetidos ao Jorge, fiel companheiro de guerras perdidas, que não os quis partilhar com Solrac.

Assim, os maravilhosos prémios revertem para a próxima semana, excepto a lata meia vazia de pepsi twist que o Martim Pêra bebeu entretanto, "ó mãe se não estraga-se...".
Para além do bilhete pré-comprado e da coleira de gato, temos, então, a saber:

- um resto de açorda do jantar de ontem, que ainda transpira a alho e coentros;
- borras de café, do lidl, que são óptimas para fertilizar vasos;
- 33 bonecos de guerra, última tecnologia chinesa, com falta de ou braços ou pernas, mas muito funcionais ainda (Martim Pêra redime-se assim da pepsi bebida);
- uma bateria de carro esbabada mas muito gira para levar para picnics saloios à beira da estrada (para sentar as regueifas).

Como podem ver não estou aqui para enganar ninguém.

Estão à espera de quê?