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terça-feira, abril 18, 2006

Outra Primavera


Ela é como o pano-cru, como outra Primavera... A vida é feita de pequenos nadas. O primeiro dia, não é simples, é doloroso e os outros também. Depois passam, devagar mas vão passando, e passam… Da brasa é feita cinza e da cinza renascemos… Põe-te em guarda… Disseram-lhe um dia…

Estavam os dois a pensar naquilo que passou e acabaram separados, embrenhados em pensamentos saltitantes, evocações de um passado lá longe, que não desejaram mas amaram. E outra Primavera chegou. Mais uma. Começavam a suceder-se as estações, indiferenciadas…

Todos os dias são diferentes, com pequenas comédias dramáticas, filmes, cenas da vida, pois que ela passa… Só nós aqui somos apenas nós, sempre-iguais, sempre-assim, queremos o amanhã com os olhos no momento, apagamos o passado com o sentido no futuro. A vida é feita de nadas. Pequenos passos tímidos.

Segunda-feira trabalhei de olhos fechados.

Há pessoas para tudo! Umas gostam das segundas, outras não, umas-outras das sextas, outras não ligam, há quem deteste o domingo e quem adore o sábado.

Ele vinte anos e ela dezoito.

A porta pode ser muito pesada, excessiva, daquelas que não se transpõem. Nem no quarto. Nem com sexo. Há barreiras limitantes-quase-gritantes. O tempo é só o tempo de acordar depois de dormir, aquele que se segue após o outro. Outra Primavera.

Nem todas as pessoas crescem e aprendendo sabem o que fazer, o que evitar… Há quem aprenda com os erros… Há quem persista em repeti-los.

A Ana olhou o João. Viu nos seus olhos, a fugir, a evasão que não conseguiu esconder. Ficaram assim, em negação, da evidência do brutal. Aquele morno calado, não-consentido. Como o pano-cru. Ainda por acabar. O Sérgio dizia estar entre o que já fez e o que irá fazer. Pano-cru.

Ela disse que iria embora. Definitivamente. “Parto sem dor”. João achou que sim. Estava cansado. Do seu corpo. Da sua voz. Do seu cheiro. Dos seus amigos. Do silêncio inquebrável. Andavam naquele-não-apetece eterno, naquela solidão não partilhada que ambos desejavam tal qual, calados. Ela teve a coragem de desfazer aquele nó, de pele, de sangue, cansada…

Há quem se encontre desencontrando-se e quem se veja sem olhar; quem viva para lá do pensamento, na sensação. Há quem se cale sem nada para dizer e fica-se na dúvida de haver algo a ouvir. Há quem fale sem conseguir dizer o que quer. Há quem nunca fale aquilo que pensa.

Andas aí a partir corações como quem parte um baralho de cartas…

Um dia reencontraram-se. Os dois a gritarem de sede. Parecia que vinha o fogo de novo. As cinzas varridas. Esquecidas. Outra Primavera. Renasceram ao mesmo tempo!


( Dedicado ao Sérgio Godinho, que com a sua música e as suas letras povou o meu passado de sonhos… “E há quem durma tão cansado nem um beijo os estremeça”)

9 comentários:

BÓLICE disse...

LOL... era tarte de amendoa...lol que eu trazia nas mãos... TU é que já estavas com uma granda NARÇA e pensate que eram baguetes de timbalão...lol... mas olha hoje nem te li, mas venho cá mais logo fazer uma oração, 'tá bém?......lol

Mami uns "caneques e tou tóde malóku"...
jks e inté

Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) disse...

Bien venida a lo cotidiano amiga. Después te digo mássssss, ahora voy a salir. Besos.

Anónimo disse...

Helena eu gostei muito do que escreves-te portamto quero que faças mais coisas mu teu Manual.

Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) disse...

Chonina. Me has dejado perpleja con esa capacidad de relatar las cosas. Eres francamente brillante.

Me ha gustado mucho todo lo que he leído. Un fuerte beso amiga.

Aragana disse...

É bem verdade, a vida é feita de penquenos nadas e de histórias intensas que vão povoando as nossas memórias.
Quase que ouvia o sérgio Godinho enquanto lia.

BÓLICE disse...

Ves, tu fazes "soceXo"...lol.

BJk e hoje estou triste

intÉ

pexeseco disse...

OLA!
Achei Bonito o que deixas-te no Blog do Bòlice (A letra de J.Niza)
Bem escolhido para responder ao Post...Respeito! Demonstras ter um sentido apurado para coisas que nos fazem Triste (se é que me entendes?)
Gostei do teu Blog torno a voltar.
Bjs:0]

BÓLICE disse...

Ter Jarda... é TER!

BJks & intÉ L.Xonitas

A disse...

Bolas bolas bolas... é o que costumo dizer qdo fico completamente boquiaberta. Ainda mais porque adoro Sérgio Godinho e já há muito tempo que não oiço esse senhor, porque é daquelas coisas que me faz mal ao coração. É ele e Jobim.
Falam cruamente. Falam do que o amor é.
Muito bom mesmo. Lindo.
Vou roubar este post e publicar no meu. Posso? Porque GOSTEI mesmo.

Beijos