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quinta-feira, abril 20, 2006

A simplicidade



" A simplicidade é extremamente importante para atingir a felicidade. É vital ter poucos desejos e contentar-se com o que se tem."
Dalai Lama
Foto: Josef Sudek
Continuando a grande saga das dedicatórias, desta vez mato dois coelhos (que horror!) de uma só vez. Tenho duas grandes amigas que amo incondicionalmente. A minha Alexandra, que conheci no externato onde estudei até ao nono ano e a minha Helena, que conheci através do meu ex-marido, vinha ela do cabeleireiro a caminho de se ir vestir para o seu primeiro casamento. Passadas algumas décadas continuamos amigas. Talvez ainda as ame mais agora do que naqueles tempos loucos de juventude.
Pudemos estar tempos infinitos sem nos ver que os sentimentos não arrefecem (nem aquecem-mas esta é a minha parte engraçadinha a querer imiscuir-se).
Tivemos as três percursos de vidas singulares e somos tão diferentes mas o afecto que nos une vence todas as barreiras.
A aventura mais gira que tivemos juntas foi uma viagem a Viena de camioneta. Passamos tanta fome, com falta de dinheiro, que acabavamos os dias no Einstein cada uma com uma cerveja de um litro e era o nosso jantar. Lá voltamos nós todas felizes para a escola nos suburbios, onde estavamos acantonadas. Passámos lá a passagem de ano e esse noite foi de festa, aquecemos a nossa feijoada de lata no fogão de campismo e comemos em copos de plástico. Soube-nos tão bem! Depois fomos comemorar com espanhóis e polacos e outros portugueses que estavam connosco. A Alexandra cantou o fado do marinheiro e nós fizemos de guitarras portuguesas e acabou de o cantar teve uma quebra de tensão e teve que ser levada de arrastão para o quarto. Deitou-se no saco-cama toda desabotoada, com o peito alvo em perigosa projecção. Outra vez convenci-as a invadir os balneários, depois de tempo infinito à espera, onde os puritanos polacos estavam a tomar banho, ficaram tão encaralhados comigo a pedir-lhes para se despacharem que nós queriamos tomar banho ou então teriam de tomar connosco. Ainda por cima os pobrezitos pouco entendiam de inglês...
Mas o mais patético foi a primeira noite. Convidei a Helena para fumar um charro. Saimos as duas todas boas, eu em calçinha de pijama e desagasalhada (apanhamos temperaturas negativas, nesse ano) mas iamos apenas fumar, fora do perímetro da escola. Depois, uma volta e perdemo-nos. Entrámos em pânico. Eu de pijaminha! Por mais voltas que dessemos não viamos a maldita escola. Por fim a Helena serena vociferou que tinha um sentido de orientação muito apurado e que haveria de encontrar o caminho. E encontrou! Em segurança, já na escola sobreaquecida fartamo-nos de rir da estúpidez.
No penúltimo dia estava tanto frio (-18º), tinhamos tanta fome e já não tinhamos dinheiro. Tinhamos apenas três bilhetes para a ópera e o dia inteiro para gastar. A solução foi andar de eléctrico o dia todo, aquecidinho, fizémos as carreiras todas da cidade. À noite fomos então à ópera. A Helena e a Alexandra sentaram-se e começaram imediatamente a ressonar. Fui a unica a vê-la do inicio ao fim, sempre a lutar contra os meus olhos que só queriam fechar-se. As malucas das minhas amigas acordaram quase antes do intervalo.
Adoro estas gajas. Até era capaz de lhes dar sangue (é de valorizar, porque nem posso olhar para uma seringa que me arrepio toda!). Ou um rim (se ainda estivesse aproveitável). Ou qualquer outra coisa que elas precisassem, exceptuando dinheiro que também não tenho! E adoro os filhos delas. O meu Antoninho, a minha Sarita, a minha Ágata que já está uma mulherzinha. É engraçado ver os nossos filhos juntos e sentir que crescemos... E vou-me, senão derramo-me todinha...
Um camião tir com um atrelado gigante cheio de tudo de bom para as minhas queridas. Amo-vos!

1 comentário:

BÓLICE disse...

Ó Xoninha, tu sabes escrever... tu sabes tirar cá para fora esse sentimento todo e emoção. Eu também começo a achar que te amo muito, Amiga. Só que ainda não me tinha aprecebido ou pensado sério no assunto. É tão fixe... acho que tens tudo ou que podes ter tudo o que quiseres da minha parte... sei lá, até um rim! O V. Pêra que me perdoe, mas eu até me apetece apertar-te e dar-te uma beijoca ENORME ó Xonitas... és a maior.

adoro-te jks e inté