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sexta-feira, março 02, 2007

A rua do gato negro.

" Não diga paixão, disse-me Hélia, diga fixação, que é mais cientifíco. "
Vergílio Ferreira


Há um átrio do Metropolitano onde, invariavelmente, vejo um pombo. Daqueles pombos lisboetas, que vivem de miolo de pão e outras migalhas, da água da chuva ou de fontes que ainda vertem. O que torna peculiar aquele pombo é que está sempre na estação do Marquês de Pombal, naqueles seus passinhos incertos de pombo, e sinto a sua falta se não o encontro. Fico com sorriso de tonta, a vê-lo desnorteado mas feliz, parece-me!, e, penso, que, se fosse um pombo tudo seria mais fácil e breve.
Depois há a rua do gato preto.
Adoro gatos, tenho um fascínio por estes felinos. Tive um gato preto, bebé, que a minha amiga Tânia me ofereceu, quando trabalhava numa loja de animais. Ninguém o queria porque era preto, toda a ninhada foi comprada e ele ia ficando. Trouxe-o para casa e baptizei-o: Zappa. Desapareceu há muito tempo da minha vida, não o pus fora de casa, ele é que fez as malas e foi à sua vida. Que os animais têm vida!, e os gatos, embora domesticáveis, têm genes selvagens ancestrais que os tornam independentes.
Na rua do gato preto, as pessoas fogem com medo de cruzamentos, evitam o pobre animal. Quando o vejo faço-lhe o meu assobio "chama gatos" e lá vem, com o rabo erguido, todo feliz, pêlo luzidio, todo gingão. Conversamos, cada qual com a sua linguagem e deixa passar-lhe a mão pelo pêlo, ronrona e depois seguimos cada qual para a sua vida. A minha, de pessoa que chama-ama-e-conversa-com gatos e dele de animal evitado-que-recusa-animais-grandes-de-que-não-gosta...
O que deixará maior marca, a paixão ou a fixação? Ou falamos do mesmo, usando palavras diferentes?

5 comentários:

maria disse...

Ena... então mas isto agora, de cada vez que aqui venho, é hora de me deixar com perguntas difíceis nos olhos?!
Não sei o que deixa "maior marca"... a mim, o que deixa a marca que dói é a fixação, o que deixa grande marca é a paixão.
Para mim não são a mesma coisa... a paixão arde e é boa de arder, a fixação consome e queima...
Sou dada às duas.
Reconheço que devia só entregar-me à paixão, essa de que gosto!
mas tenho a triste ideia de me prender em fixações estranhas... quer dizer, é mentira... só me acontecem (? plural?... bom, talvez esteja agora a experimentar o que pode vir a ser a segunda... credo... a ver se fujo disto a tempo...) muito raramente. Mas depois de se instalarem... é a miséria: duram e matam devagarinho e a sangue frio.

;)
Bom, mas hoje até é domingo, a ver se me deixo de consumidelas e faço algum bem pela vida! ;)

Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) disse...

En verdad, en verdad te digo CHONINA, que nada más cerca de la realidad que la más sofisticada ficción.

¿Qué haríamos sin representar-nos una y otra vez?

Siempre somos aquello que aparentamos, mal que nos pese a veces.

Gioconda disse...

Acho que o que mais me fez sofrer na minha vida... foi mesmo.... a obsessão.

Aragana disse...

Eu amo gatos.

São LINDOS!

augustoM disse...

As palavras na prática são sinónimo uma da outra, não há paixão sem fixação como vice versa, mas que ambas não fazem bem à saúde e não fazem.
Também gosto de gatos. Tenho uma gatita arisca, são feitios, mas gosta de dormir ao meu colo.
Um abraço. Augusto