Vergílio Ferreira
Há um átrio do Metropolitano onde, invariavelmente, vejo um pombo. Daqueles pombos lisboetas, que vivem de miolo de pão e outras migalhas, da água da chuva ou de fontes que ainda vertem. O que torna peculiar aquele pombo é que está sempre na estação do Marquês de Pombal, naqueles seus passinhos incertos de pombo, e sinto a sua falta se não o encontro. Fico com sorriso de tonta, a vê-lo desnorteado mas feliz, parece-me!, e, penso, que, se fosse um pombo tudo seria mais fácil e breve.
Depois há a rua do gato preto.
Adoro gatos, tenho um fascínio por estes felinos. Tive um gato preto, bebé, que a minha amiga Tânia me ofereceu, quando trabalhava numa loja de animais. Ninguém o queria porque era preto, toda a ninhada foi comprada e ele ia ficando. Trouxe-o para casa e baptizei-o: Zappa. Desapareceu há muito tempo da minha vida, não o pus fora de casa, ele é que fez as malas e foi à sua vida. Que os animais têm vida!, e os gatos, embora domesticáveis, têm genes selvagens ancestrais que os tornam independentes.
Na rua do gato preto, as pessoas fogem com medo de cruzamentos, evitam o pobre animal. Quando o vejo faço-lhe o meu assobio "chama gatos" e lá vem, com o rabo erguido, todo feliz, pêlo luzidio, todo gingão. Conversamos, cada qual com a sua linguagem e deixa passar-lhe a mão pelo pêlo, ronrona e depois seguimos cada qual para a sua vida. A minha, de pessoa que chama-ama-e-conversa-com gatos e dele de animal evitado-que-recusa-animais-grandes-de-que-não-gosta...
O que deixará maior marca, a paixão ou a fixação? Ou falamos do mesmo, usando palavras diferentes?
5 comentários:
Ena... então mas isto agora, de cada vez que aqui venho, é hora de me deixar com perguntas difíceis nos olhos?!
Não sei o que deixa "maior marca"... a mim, o que deixa a marca que dói é a fixação, o que deixa grande marca é a paixão.
Para mim não são a mesma coisa... a paixão arde e é boa de arder, a fixação consome e queima...
Sou dada às duas.
Reconheço que devia só entregar-me à paixão, essa de que gosto!
mas tenho a triste ideia de me prender em fixações estranhas... quer dizer, é mentira... só me acontecem (? plural?... bom, talvez esteja agora a experimentar o que pode vir a ser a segunda... credo... a ver se fujo disto a tempo...) muito raramente. Mas depois de se instalarem... é a miséria: duram e matam devagarinho e a sangue frio.
;)
Bom, mas hoje até é domingo, a ver se me deixo de consumidelas e faço algum bem pela vida! ;)
En verdad, en verdad te digo CHONINA, que nada más cerca de la realidad que la más sofisticada ficción.
¿Qué haríamos sin representar-nos una y otra vez?
Siempre somos aquello que aparentamos, mal que nos pese a veces.
Acho que o que mais me fez sofrer na minha vida... foi mesmo.... a obsessão.
Eu amo gatos.
São LINDOS!
As palavras na prática são sinónimo uma da outra, não há paixão sem fixação como vice versa, mas que ambas não fazem bem à saúde e não fazem.
Também gosto de gatos. Tenho uma gatita arisca, são feitios, mas gosta de dormir ao meu colo.
Um abraço. Augusto
Enviar um comentário