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quarta-feira, dezembro 14, 2005

O meu coração saliente bate mas também sente.

Chico Buarque, 1985
«Ópera do malandro»



Sentimental, sentimental
Um coração saliente
Bate e bate muito mais que sente
Fica doente
Mas é natural, natural
Que num cochilo de agosto
Surja um outro alguém do sexo oposto
Do sexo oposto, outro alguém

Ontem vi tudo acabado
Meu céu desastrado
Medo, solidão, ciúme
Hoje eu contei as estrelas
E a vida parece um filme

Gemini, gemini, geminiano
Este ano vai ser o seu ano
Ou senão, o destino não quis
Ah, eu hei de ser
Terei de ser
Serei feliz
Serei feliz, feliz

Façam muitas manhãs
Que se o mundo acabar
Eu ainda não fui feliz
Atrapalhem os pés
Dos exércitos, dos pelotões
Eu não fui feliz
Desmantelem no cais
Os navios de guerra
Eu ainda não fui feliz
Paralisem no céu
Todos os aviões
É urgente, eu não fui feliz
Tenho dezesseis anos
Sou morena clara
Atraente
E sentimental
Sentimental, sentimental





Adorei este filme de Ruy Guerra e esta era a minha canção preferida. Ainda pára lá por casa o VHS do filme, gravado na RTP2 e o LP, com a banda sonora do filme. Eu tinha dezasseis anos, era morena clara, atraente, sabia que ia ser feliz (todos os jovens sonham a felicidade), ou então paralisaria o mundo, a rotação planetária, porque sabia que era um direito que eu tinha.
Sou feliz. Passaram vinte anos. Só não deixei de ser sentimental; isto com a idade até deve ter agravado! Não choro é tanto; era mais chorona, era o emaranhado das hormonas...
Ontem chorei, chorei, chorei...
Hoje sinto-me lavadinha por dentro e fora, pronta para este dia, pronta para todos os dias, os dias que me fazem sentir feliz: ou é uma folha que caiu no meu Largo e apanho com carinho e guardo nos meus cadernos; ou é o doido do Martim Pêra a levantar-se às sete da manhã, com os calções de escoteiro vestidos por cima do pijama: diz que foi represália por ter-lhe sido negado um copo de água antes de dormir; ou é o Vitor Pêra a ligar-me pela manhã, docinho e preocupado: Chóninha...

O meu coração saliente bate mas também sente.

2 comentários:

Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) disse...

Estoy segura, Chonina, que después de ese monólogo tan desgarrado, tan sentido y tan abierto, tienes que sentirte mucho mejro ¿a que sí?
Ese es mi deseo. Un fuerte abrazo.

Choninha disse...

Tens razão Anatema, para mim isto de escrever no blog serve como terapia.
Espero que te corra bem o dia, com o lançamento do teu livro. Beijo amigo enorme!