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segunda-feira, dezembro 05, 2005

Onde é que eu estava há vinte e cinco anos?

Ontem vi o documentário "ateatrado" que a retepê, como diz o Martim, passou sobre o Sá Carneiro.

Lembro-me perfeitamente da sua morte. Tinha feito 12 anos no dia anterior. Andava a estudar no ciclo preparatório. Não tive aulas. A rádio e a tv só passavam musica clássica. Fui passar o dia, na Colina do Sol (onde hoje vivo!), em casa da minha amiga Fazila. Era a minha melhor amiga à epóca. Era a melhor aluna da turma. Eu era a segunda, porque não estudava e usava apenas a memória e a imaginação. A Fazila estudava que se desunhava. Tinha de ter 5 a tudo.

Em casa da minha amiga (como adoraria revê-la!) vivia uma familia enorme, onde dominava a avó, a matriarca. Falava-se inglês, hindu e os filhos (eram quatro) ajudavam os pais no português.

Aqueles cheiros, aquela casa, que eu adorava. A avó cozinhava aquelas comidas indianas fantásticas, super-condimentadas e picantes. Lembro-me perfeitamente de nesse dia sair de lá cor-de-rosa choque, depois de comer com eles.


Mas voltando ao Sá Carneiro, hoje compreendo o que perdemos. E compreendo que talvez naquela noite tenhamos perdido um rumo, um sentido a dar à jovem democracia.
O Senhor Doutor Mário Soares, aquele que não quis ser candidato mas foi obrigado (coitadinho, já não pensa por ele!), pode ter editado muitos livros, ter viajado milhares de km's, ser conhecido em toda a Europa (e Macau!), mas foi o percursor do buraco onde estamos. Um buraco onde todos rapam rapam rapam, até romper o fundo. E o fundo mais fundo se calhar até já rompeu mas tira-se aos pobres para forrar o fundo para que estes senhores doutores, rapem rapem rapem.

Não é amargura: é pensar em como puderiamos estar de outra forma, talvez pior, diferente, pelo menos... Se fosse mais nova emigrava, cansa-me ver sempre as mesmas caras, sem ideias, sem qualidade; estes licenciados, filhos de porteiras, que governam o MEU país...

O Vitor Pêra ainda se lembra do que lhe disse quando o Durão anunciou a tanga: América latina, babe, américa latina... Quando o tipo fugiu de tanga, lá para a Comissão, diz Vitor: "Chóninha, tinhas razão,..."

4 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

não sei porque há-de fazer de conta que não esgrima as palavras....fá-lo mt bem. a sério. bjo.

Maria Papoila disse...

Quando Sá Carneiro morreu, eu era tão pequena que não tenho a mais pequena lembrança. De qualquer das formas, deixe-me meter a colherada! É que estou a pensar em todas aquelas pessoas que morreram novas e se tornaram mitos, porque, segundo dizem, tinham um futuro promissor...
Marilyn Monroe, James Dean, Lady Diana, etc...
Quem nos garante que estas pessoas íam realmente cumprir o destino que os outros lhes previam? Faz-me lembrar os funerais, em que o morto, por pior pessoa que fosse, é sempre elogiado por alguma razão.
Morreu Sá Carneiro. Aposto que tinha feito muitas promessas e não as cumpriu, porque morreu. Os políticos de hoje também fazem muitas promessas e não as cumprem, mas não temos a sorte de assistir à sua morte( pelo menos política).
Sá Carneiro não está cá, por isso não adianta nada prever o que ele teria feito ou até o que não teria feito.
Em Portugal olha-se demasiado para o passado. Será por isso que nunca mais chegamos ao futuro?

Jorge disse...

Afinal sempre acabaste por vir ao meu encontro, o que só prova que com os velhos também se aprende.
E ainda bem que reconheces onde está o caminho, muito embora possas nele encontrar personagens ácerca das quais tens todo d direito de duvidar, muitas vezes com toda a razão. Por outro lado, na outra banda de lá do muro só há practicamente dessas individualidades, mais interessadas nelas próprias do que no bem dos outros

Dinamene disse...

Dichosos de nosotros que tenemos memoria para evocar esos recuerdos que nos hacen vibrar y setirnos bien. Un beso para ti amiga. Concha.