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quinta-feira, novembro 10, 2005

Que preguiça! Estou com uma lazeira tão grande, obscura. Será a esgrouviada da astenia outonal que me atacou? Terei escorregado na “Espuma dos Dias”?

Ontem por motivos técnicos, vulgo avaria do elevador, tive de galgar uma porrada de escadas, pisos, aí, nem quero lembrar… Que canseira! Dói-me tudo, até me custa ter os olhos abertos!

Abre os olhos. Vai tomar banho! Mexe-te! Depois lambuza-te de creme hidratante. Veste-te! Verifica o que vai. Verifica o que fica. O livro. “Um céu demasiado azul”, Francisco José Viegas.

Pode ser do livro?


" Na verdade, Filipe sabia, as pessoas acabavam por viver com alguém a seu lado, na maior parte das vezes para não enfrentarem a solidão ou terem de sofrer a humilhação de morrerem em silêncio. Primeiro, apaixonavam-se, e Filipe Castanheira sabia que não podia deixar de ser assim. A seguir, o prazer de repetir os primeiros gestos, as primeiras palavras de sedução. E o desejo de repetir tudo como se fosse a primeira vez, embora a primeira vez fosse sempre uma data distante que não se recorda senão para evocar o prazer perdido, geralmente o amor efectivamente perdido. Cedo sobrevêm as dúvidas, os compromissos, as vigilâncias, as palavras que perdem o primeiro dos significados. Amo-te. Como se deixa de amar alguém? Como deixamos de amar alguém? Deve haver um aviso, um sinal que fica a marcar tenuamente uma página de um livro, uma parede de casa, uma data às vezes, o céu de uma manhã de Inverno. Deve ser no Inverno que por vezes deixamos de amar seja o que for, porque o Inverno é o tempo da casa partilhada e uma casa só muito dificilmente se partilha. Uma casa é o último reduto do animal em perigo, um refúgio contra as tempestades – e as tempestades são todos os que vivem à nossa volta."


Porra! O FJV escreve estupendamente bem. Obrigada A. por me teres emprestado este céu. Raspa lá bem esse insight e vê lá se não parece a puta da vida… É que é tal qual! Lembras a nossa conversa no domingo passado? Que tendência crónica a tua: complicar para me dares trabalho a descomplicar…

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