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quinta-feira, julho 14, 2005

A Caminho da Linha Girassol

Outra quarta-feira
O cabelo molhado a alma a escorrer
O pensamento como um cavalo selvagem
A paixão de um sonho que podia ser já
Lá fora as crianças no intervalo da escola
Os sons passam por mim nada deixam
São apenas a realidade
O fora
Cá dentro o cabelo molhado e o olhar cansado
As noites dormidas à pressa as alvoradas avulsas
Fica para sempre este sabor
Este enormíssimo sabor
Este sabor a despojado!

Dói-me o tempo que passa incólume a dor que corroeu
A impotência de me saber
O sentido do caminhar
O peito bate agitado
Em sobressalto
No fio da navalha
Uma vida
As folhas irão cair todas hibernar até à próxima primavera!

Sentada na paragem de camionetas suburbanas
Os carros passam mesmo à beirinha
Na estrada
Indiferentes
É o ir e vir de um dia de semana
Outro
Outra quarta-feira

Mas parece tudo sempre assim
Perdeu a cor
Ou perdi o olhar com que via?

A incerteza
A ter como principio
De procurar certezas sinto-me cansada!

Os carros param nas passagens para peões
Atravessam figuras cinzentas com sacos de supermercado pelas mãos
A sobrevivência ou tentativa

A viagem parda no autocarro
Em silêncio calam-se os pensamentos

Agora no metro
Aguardo que venha
Somos muitos nesta espera sombria
Rostos carregados de mutismo

Uma senhora aborda-me
Pede-me orientação para a sua desorientação secundária
As minhas indicações simples e directas confundem-na
A sua limitação é constrangedora

Há pessoas que deixam o cérebro de molho até à hora de assistir à próxima novela

Vivem felizes
Ignorantes e narcotizadas

Não procuram o que não conhecem com medo de encontrar alguma coisa

Vou na carruagem
Tudo é viagem
E isto é só Outra quarta-feira

1 comentário:

Jorge disse...

Agora sim que és tu afalar. Gostei. A propósito: sabes quem é o leão da estrela?=