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quarta-feira, julho 20, 2005

Palhaço Alemão


Tinha tendência de inventariar as pessoas logo ao primeiro contacto. Acreditava sobretudo no sexto sentido feminino ou intuição ou qualquer coisa parecida. Intuitivamente nunca falhava: era tão simples quanto isto ou se é boa ou má pessoa. A Maria, por exemplo, fazia sempre o "teste do cão": levava os amigos ou o cão a conhecerem-se mutuamente e este ao cheirá-los se os aceitava era porque seriam boas pessoas, de confiança. Mas o cão começou a envelhecer e cada vez mais falhava nos diagnósticos... O dono teve de começar a fazer prognósticos e apesar de dizer-se conhecedor da natureza humana eram muitas as vezes que falhava redondamente.

Quem visse aquele homem, com a sua capa, assustava-se, amedrontava-se, como se não fosse possível existir homem mais frio e cruel: tinha cara de palhaço alemão, nazifilhodaputa! Até não fazia sentido; conseguir apenas imaginar alguém tão parecido com ninguém, mas ao mesmo tempo muito forte, com a sua forma de viver extremamente agressiva... Mas, dizem, os olhos são o espelho da alma: tão sedento, tão contraditório: cheio de amor e ódio; imenso de ressentimentos e pronto a perdoar e esquecer... Porra! Que homem complicado!

Dizia, cheio de altivez, odiar as mulheres, que eram umas sacanas, umas manipuladoras, umas verdadeiras cabras! E não conseguia respirar sem as sentir por perto!

Cláudia tirou-lhe o registo em dois tempos, ao vê-lo duas ou três vezes, e depois ao ouvi-lo... O desdém que se forçava a mostrar a cada mulher que via era tão grande como o desejo de a possuir! Muitas vezes refugiava-se e fortalecia-se com a presença dos amigos, machos, daqueles que não usam peúgas no Verão com o sapatinho de berloque a brilhar de graxa e mal vem o calor vão a correr para a praia na esperança de comer alguma boazona desprevenida e menos atenta!

Mas o sexto sentido dizia-lhe que ele até seria boa pessoa, apesar do ar anazizado que transpirava exteriormente, usava aquela cobertura havia décadas, toda a sua vida, e acabara por se fundir no corpo... Seria muito difícil sacá-la e mostrar-se como era.

O António era emocionalmente dependente daquela rija capa e foi assim que apareceu Cláudia na sua vida.

3 comentários:

axadresado disse...

olá Helena, espero que nao se fique só pelo blog espero ver essa sua escrita um dia numa livraria á venda.
passear pelo seu blog é uma aprendizagem constante.
Parabens!

Choninha disse...

Obrigada! Muito gosto em vê-lo por cá!

Jorge disse...

Ainda te roubo um destes maravilhosos textos.Põe-te a pau com a escrita!!!